Barra Velha, nossa cidade. Jardim Icaraí, meu Bairro
Vista do bairro - Mirante Parada Havan
As contribuições apresentadas neste espaço do blog são de uma pessoa que, além de grande amiga, foi minha orientadora no Doutorado em Educação da UFPR e continua seus trabalhos e suas lutas por uma Educação Socioambiental de qualidade no mesmo programa de Pós-graduação da referida universidade. Obrigado, Sônia! Suas contribuições são fundamentais para um bem pensar Barra Velha e seus espaços turísticos, principalmente pelos indicativos de como fazê-lo na perspectiva da sustentabilidade socioambiental.
Valdir.
ECOTURISMO: ALTERNATIVA TURÍSTICA SUSTENTÁVEL
Sônia Maria Marchiorato Carneiro
Valdir, parabéns pela sua última matéria no blog! De fato, a proposta de desenvolvimento de Barra Velha a partir do turismo sustentável é uma estratégia fundamental, dada as características de excelência turística dessa linda cidade litorânea do norte de Santa Catarina. Gostaria de usar esse espaço do blog para esboçar algumas reflexões no sentido de reforçar o que você enfocou.
É importante primeiramente ter presente que a ideia de sustentabilidade contrapõe-se ao turismo convencional, meramente capitalista, que objetiva apenas ao lucro para um grupo, sem preocupação com o desenvolvimento qualitativo dos lugares, sendo mais uma ameaça impactante do que uma atividade socioambientalmente sustentável. Nesse aspecto, ocorre a degradação das condições de vida dos moradores e dos próprios turistas, em razão do mau uso do meio natural, em especial nas áreas mais frágeis, como as zonas do litoral (praias, restingas, matas e mangues). Esse efeito de impacto negativo também atinge a esfera social, quanto à infra-estrutura deficitária, que não dá conta de atender a toda demanda de uso da água, de esgoto, da coleta de lixo, de hotelaria e campings, dos serviços de saúde e segurança, do uso do solo pelo aumento da população sazonal e pela especulação imobiliária.
Assim, uma das alternativas de turismo mundialmente reconhecidas como de baixo impacto socioambiental é o Ecoturismo. Com base na concepção do Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) (1995), o Ecoturismo é uma atividade que utiliza de forma sustentável o patrimônio natural e cultural, incentivando sua conservação e busca a formação de uma consciência ambiental por meio da interpretação do ambiente, promovendo o bem estar das populações envolvidas. Sob essa ótica, Gustavo Laskoski (2006), enfoca os princípios do Ecoturismo, que possibilitam uma política turística justa socioambientalmente, a partir do envolvimento de ações conjuntas entre governo, empresas e comunidade local. São esses os princípios:
- uso dos recursos naturais e socioculturais de forma sustentável (responde às necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das gerações futuras), garantindo a viabilidade do turismo a longo prazo;
- redução do consumo exagerado e do desperdício, evitando o custo de recuperação do meio natural danificado e contribuindo para a qualidade do turismo;
- integração do ecoturismo ao planejamento estratégico nacional e local, em conexão aos Estudos de Impactos Ambientais;
- apoio às comunidades locais no setor turístico, não só trazendo-lhes benefícios e à realidade ambiente, mas melhorando a qualidade de experiência do turismo;
- consulta aos investidores, comunidades locais, organizações e instituições para um trabalho conjunto, na perspectiva de conciliar interesses potencialmente conflitantes;
- capacitação de equipes que integrem o turismo sustentável e do pessoal local;
- condução criteriosa do marketing, em vista de informações objetivas e satisfatórias aos turistas, para que eles se motivem a respeitar o meio natural, social e cultural das áreas de destino;
- realização contínua de pesquisa e monitoramento das áreas turísticas pelos órgãos responsáveis, coletando e analisando dados para a solução de problemas, sempre buscando beneficiar as populações locais, o turismo e sua clientela.
O desenvolvimento de atividades ecoturísticas em cada região e lugar depende de uma avaliação diagnóstica das suas peculiaridades e potencialidades naturais e socioculturais, verificando-se o que é possível empreender com segurança técnica e qualidade de lazer. Dentre as várias atividades, vale destacar algumas que podem ser realizadas em regiões litorâneas:
- ecoturismo esportivo: canoagem, vôo livre, balonismo, surf, escalada, windsurf, paraquedismo, cicloturismo, mergulho;
- ecoturismo lúdico e recreativo: caminhadas, acampamentos, contemplação da paisagem; banhos;
- ecoturismo étnico ou cultural: contatos e interação com populações tradicionais da região, observação de edificações históricas, visitas a artesanatos e museus;
- ecoturismo científico: estudos e pesquisas científicas em diversas áreas, como botânica, geologia, arqueologia, paleontologia, zoologia, biologia, geografia e história;
- ecoturismo educativo: observação da fauna e da flora, interpretação da dinâmica da natureza, obervações astronômicas e orientações geográficas e trilhas interpretativas.
Algumas dessas atividades são relacionadas diretamente com outras, como por exemplo, a atividade astronômica, além de ser um ecoturismo educativo, pode ser científico. E se as atividades ecoturísticas, forem bem conduzidas e praticadas, trazem benefícios à comunidade, como: diversificação da economia local tanto da área urbana quanto rural; geração de empregos não só no setor turístico, mas em outros segmentos socioeconômicos, estimulando a criação de hotéis, pousadas e outras instalações de alojamento, de restaurantes e serviços gerais de alimentação, de transporte, de artesanato e de guia; asseguram o desenvolvimento turístico apropriado à capacidade de suporte dos ecossistemas envolvidos; estimulam a melhoria do transporte, da comunicação, do comércio, de instalações de lazer (praças, parques, passarelas de pedestres etc.), de arborização, de despoluição (do ar, da água, do solo, sonora) e de outros aspectos da infra-estrutura comunitária (saneamento e serviços de saúde, educação e segurança); valorizam a importância dos bens naturais e socioculturais e o bem-estar social da comunidade.
Mas para que esses benefícios aconteçam, é preciso vontade política, especialmente por parte do governo, dando-se destaque às seguintes ações prioritárias:
- abertura, pelo governo municipal, de canais de participação da comunidade na gestão turística (fóruns abertos aos cidadãos, via TV, internet, imprensa local, seminários, encontros etc.), possibilitando-lhe partilha de responsabilidade nas decisões de planejamento e implementação de projetos ecoturísticos, assim como a discussão de problemas locais e proposição de soluções; tais ações, de caráter democrático, valorizam as pessoas do lugar como cidadãos ativos, na medida em que consigam expressar suas opiniões, necessidades e anseios;
- integração do governo local em projetos dos governos estadual e federal, de universidades, de ONGs, de associações comunitárias, entre outros, visando a favorecer a expansão do Ecoturismo no município e na região; para efetivar a participação qualitativa das pessoas na gestão turística, faz-se necessário a criação de programas de capacitação das lideranças comunitárias, políticas, empresariais e governamentais;
- empreendimento, pela prefeitura, de ações para ampliação da infra-estrutura (saneamento básico, educação escolar, saúde, segurança, ruas pavimentadas e calçamentos, locais de lazer etc.), em vista do desenvolvimento da qualidade de vida dos moradores e da estadia dos turistas;
- destinação, pelos governos local e estadual, de investimentos para Estudos de Impactos Ambientais para promover planos de desenvolvimento regional ecoturístico, bem como promover uma efetiva fiscalização ambiental, fazendo cumprir leis e normas de ocupação de solo e de proteção dos ecossistemas litorâneos; sob esse aspecto, torna-se importante o governo elaborar um zoneamento ecológico-econômico do município, envolvendo os conceitos de suporte/carga, limite aceitável de mudança, de sustentabilidade espacial e das áreas de preservação;
- incentivo pelas autoridades administrativas à prática de atividades econômicas tradicionais, como a pesca, o artesanato e festas típicas da região; e desenvolver programas de Educação Ambiental voltados à comunidade local, aos operadores do ecoturismo e aos turistas, para que tal atividade ganhe resultados valiosos para o lugar, sob o ponto de vista do respeito e de divulgação positiva.
A Educação Ambiental nos vários segmentos sociais, incluindo a instituição escolar, é de fundamental importância na formação da consciência socioambiental cidadã das pessoas, entendida como conhecimento crítico da realidade para ações criteriosas e benéficas. E sob essa ótica, destaca-se a responsabilização pelos deveres e busca de direitos individuais e coletivos por um ambiente de vida sadio – direito constitucional de todo cidadão.
A intenção desse pequeno ensaio é instigar o Ecoturismo em Barra Velha para os três lances que o professor Valdir enfoca: turismo em tempo integral; turismo em tempo de veraneio e em tempos intersticiais, tendo-se em vista cativar o turista para o desejo de sempre querer voltar a esse recanto litorâneo.
Referências
INSTITUTO BRASILEIRO DE TURISMO; INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS: diretrizes para uma política nacional de ecoturismo. Brasília, DF, 1995. Disponível em: <ambientes.ambientebrasil. com.br/ecoturismo/política nacional de ecoturismo/diretrizes para uma política nacional de ecoturismo. htm > Acesso em: 11/10/2011.
LASKOSKI, Gustavo T. Ecoturismo: meio ambiente. Trabalho de Graduação (Curso de tecnologia Eletrônica) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2006.
SILVEIRA, Marcos Aurélio T. da. Ecoturismo na Ilha do Mel: diagnóstico e recomendações para implementação. In: NEGRELLE, Raquel R. B.; LIMA, Renato Eugenio de. Meio ambiente e desenvolvimento no litoral do Paraná: subsídios à ação. Curitiba: NIMAD-UFPR, 2002. p. 239-258.