quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

BARRA VELHA: O MELHOR LUGAR



Fonte:
http://diarydebicicleta.blogspot.com.br/2010/12/8-viagem-barra-velha-sc.html


Neste tempo comemorativo de três anos do Jornal Folha Parati e dos cinqüenta e um anos de emancipação política de Barra Velha, nosso lugar-comum, deixo de escrever sobre educação para escrever sobre o sentido do ninho, sobre o sentido do lugar de pertença, sobre o significado de viver e habitar neste município – casa de todos! Nosso lugar de pertencimento! Para isto, vou a um trecho retirado de um livro que recém escrevi intitulado ‘O Carregador de Pedras’:

“Ao abrir a porta da sacada, no novo apartamento de hospedagem, o carregador de pedras percebeu uma grande árvore que sustentava um pequeno ninho em um galho. Ficou observando por algum tempo o movimento dos pássaros que o visitavam em tempos intercalados para alimentar os filhotes. A árvore – uma de muitas na avenida – hospedava em sua copa uma família de pássaros que, por bom tempo, tecera cuidadosamente aquele ninho.
            Enquanto olhava, pensou: - Cada ninho tem uma arquitetura própria, um traçado, uma configuração representando o que tal pássaro é. Mostra seu jeito de ser pássaro na feitura do ninho. Todo ninho é abrigo, proteção, habitação e pertencimento, mesmo que seja por pouco ou muito tempo. São muitos os tipos de ninhos e variadas as suas formas. Nos ninhos imprimem os pássaros o que é mais forte em sua natureza. Deixam ali os traçados de suas vidas, definem a continuidade de seu viver.
            Ficou por um tempo contemplando o movimento dos pássaros e pensando sobre o sentido do ninho na vida deles. Absorto naquela imagética entre especulação e poesia, foi entrando em um universo paralelo e mergulhou no que a vida lhe apresentava de mais desafiador – a construção do seu lugar no mundo.
            Olhar a dinâmica dos pássaros permitia pensar a sua própria, o seu existir. Pensou alto – Muitas pessoas, nesse mundo, vivem longe de seus ninhos, distantes de seus lugares, dos seus espaços vitais. Muitos seguem em várias direções. Vão para aonde lhes convém ou podem em dado momento de suas histórias, sem jamais esquecer dos lugares onde habitaram, a que pertenceram. Outros, apenas frequentam determinados lugares sem poder habitar, pertencer e ser... Vivem vidas que não são as suas!..
            ...Os lugares que construímos para viver são únicos e só podem ser habitados por quem, de fato, lhes pertence. Habitar, não como ato de apenas estar, passar ou ficar, mas como ato de sentir-se, fazer-se parte, pertencer. Não habita com sentido quem não pode pertencer...
            ...A pertença é presença a se fazer cotidianamente. É movimento de tecelão que não se nega adicionar fios e cores identificadores do lugar que se faz sua criação e sua morada. Viver sem sentir, sem pertencer, sem coabitar... causa estranheza. Viver habitando, onde for e qual for o ninho, desde que se pertença... causa gozo, felicidade e força.
            A imagem do ninho estava levando o homem aos lugares de sua vida – lugares que construiu e onde, por algum tempo, habitou e aos quais pertenceu. Mesmo distante, estava em sintonia com os seus melhores lugares no mundo – sua casa e sua cidade. Não podia ficar afastado deles, por isso as lembranças, os momentos de recordação eram-lhe necessários. Ajudavam a continuar sua trajetória. Lembrar dos detalhes da casa – seu ninho –, dos momentos vividos nele, ampliava a confiança, a certeza de que precisava continuar, seguir até o final de sua viagem.
            Por um instante, aquele homem pensante pegou a mala das pedras, uma cadeira e sentou-se na sacada. Ficou ali segurando aquela mala e olhava a vida acontecer no ambiente externo. A avenida movimentada, a luta dos pássaros pela vida dos filhotes, as pessoas que passavam nas calçadas, o barulho dos carros. Ele estava ali naquele lugar porque havia feito uma escolha e uma promessa a si mesmo. Estava num lugar que não lhe pertencia, mas servia de ponte. Um momento necessário na vida de quem se aventurava a cumprir o que dava sentido a um viver carregado de cumplicidade, buscas e relações compromissadas.
            Pegou uma das pedras nas mãos e disse para si mesmo – não há lugar melhor no mundo a não ser o ninho no qual vivemos uns com os outros enfrentando tudo que a vida nos propõe e nos desafia a viver. Não há lugar melhor para se habitar e pertencer do que o lugar que construímos com as próprias mãos. O melhor lugar é o lugar onde posso estar com quem a vida me presenteou.
            Retirou outra pedra da mala e falou – se eu pudesse, diria para as pessoas aproveitarem em cada novo dia, novo agora, os cantos, os recantos, os detalhes, as minúcias dos lugares onde habitam. Olhassem em volta para perceber em cada minúsculo espaço um pouco de si mesmas, um pouco do que sonham, do que acreditam, do que esperam...
            ...Diria a elas que não deixassem de saborear os risos, as gargalhadas, os toques, os olhares, as falas, os sons e cheiros que circulam em cada recanto dos cantos onde vivem e aos quais podem pertencer. Olharia nos olhos de cada uma e diria para respirarem profundamente a vitalidade emergente do lugar que pode ser o melhor no mundo. Ele ficou na sacada até algumas luzes começarem a ser acesas. Era momento de se organizar para o jantar e rever os passos do dia seguinte” (NOGUEIRA, 2012). 

Parabéns, Barra Velha! Parabéns Folha Parati! Espaços de vida, de troca, de encontro. Espaços de compartilhamento das possibilidades e dos sonhos. Barra Velha, nosso ninho – espaço de pertença e de existência. Lugar de produção de sentidos e significados. Folha Parati, espaço-meio de diálogo e de informação; prática social fundamental na construção da cidadania crítica e atuante.

NOGUEIRA, Valdir.

domingo, 14 de outubro de 2012

O forjamento do Educador/Educadora.


 
Quinze de outubro é o dia do Professor. Por isso, faço uso deste espaço que criei para discutir os espaços-tempos comuns de vida da minha/nossa cidade, para parabenizar aos colegas Educadores/Educadoras e aqueles/aquelas em formação, pelo nosso dia partilhando um pouco da minha história.

 

Aos mestres, com carinho!

O forjamento do Educador/Educadora.

 
            Acredito que um educador se forja ao longo do fazer histórico e por meio dos caminhos que segue percorrendo. Não nasce pronto e acabado. Não é a graduação, nem a pós-graduação que o define e o faz concluso senão as muitas perguntas que ele mesmo coloca para si ao vivenciar tais processos formativos e ao experienciar os desafios da atuação profissional.

            Um educador forjado na inquietação produzida pela prática socioeducativa e pelo mergulho que faz nas muitas realidades vividas por ele e pelos demais sujeitos dos processos educativos, jamais se dá por pronto. Ele segue a vida desafiando-se a ver-se no não visto, a encontrar-se no não encontrado, pertencer ao não pertencido. Faz dos não-lugares, um lugar para si e para os outros que compartilham consigo as perspectivas de projetos-mundos e os caminhos da esperança.

            Minha forja socioeducativa começa quando entro na escola do Cotovelo, em 1978, na cidade de Barra Velha, hoje Escola David Pedro Espíndola. De lá até os dias atuais, percorri alguns caminhos de lutas e de possibilidades. Tive que ver no impossível o possível, acreditar no inacreditável! Quando cursava o ensino médio, sonhava com a faculdade, mas minha realidade de vida parecia dizer o contrário, como ouvi de um dos patrões da minha mãe (cozinheira de mão cheia) quando passei no vestibular para Geografia: “Filho de pobre entra, mas não conclui a faculdade”.

            Sou grato a minha mãe que fez o empréstimo antecipado de seu salário para pagar a matrícula da graduação iniciada no ano de 1993, na Univali – Itajaí/SC. Honrei minha família e o esforço de todos que me ajudaram na linda empreitada da formação acadêmica – pais, avós, tios, amigos. O ‘filho de pobre’ não só saiu da faculdade formado; fez Especialização, Mestrado, Doutorado, viajou para outros países e hoje sonha em fazer seu pós-doutorado. Um sonho-possibilidade que logo se concretizará. Um educador se forja não apenas pelo brilho teórico-metodológico ou pela competência acadêmica e prática que lhe define, mas também e, principalmente, pelos sonhos que alimenta, pelas possibilidades que enxerga, pelas esperanças que nutre, pela partilha que faz dos seus anseios de mundo, de sociedade, de vida.

            No mesmo ano, 1993, após engajamento na Pastoral da Juventude onde atuei por 18 anos, recebi convite para trabalhar em uma escola como professor de Educação Física para crianças da Pré-Escola. A Coordenadora dos grupos de catequese via em mim um potencial para trabalhar com crianças, pois à época eu trabalhava também com a catequese. Foi um lindo convite e um maravilhoso desafio! Eu não sabia ser professor, eu não tinha formação para ser educador a não ser as experiências vivenciadas por mim como aluno que carregava e carrego comigo até hoje, especialmente as experiências marcantes com os professores que potencializaram minha vida e meu viver.

            Um professor forjado na realidade de vida sua e de seus alunos é um encorajador de mentes e corações. Ele empodera o Ser dos sujeitos-alunos, amplia seus horizontes, desmistifica a realidade e os fatalismos, encorajando-os a ver além do aparentemente visto. A saírem de si mesmos e a apreenderem, quando retornam a si mesmos, fazerem-se mais com a realidade que é construída por eles e que está neles. Ele os revigora e os faz, criativamente, tornar a vida absurdamente possível.

            Ano que vem - 2013 completarei 20 anos de magistério. Destes, 10 anos em escolas públicas e os demais 10 anos divididos entre escola particular e universidades. Dez anos de trabalho no Magistério Superior, contribuindo com a formação de Pedagogos e professores nos diferentes níveis. Nesse tempo de escola pública, não me dei por vencido, nem me adaptei aos desmandos e aos ferrolhos da opressão e da minimização do Ser e do fazer (práticas) docentes. Ouvi muitos ditos: “Não venha pra cá com tuas teorias e teus discursos”; “Desista, agora tu começas com muita empolgação, mas depois tudo passa”; “Não adianta, esses alunos não tem condições” entre outros ditos e não ditos – olhares, gestos, atitudes e ações que falavam muito, eram coercitivos e degenerativos.

            Quando terminei o Mestrado, fui mandado para uma biblioteca de escola, era o lugar que me cabia, como diziam alguns, eu já estava falando demais. Não desisti dos alunos, não silenciei, não calei, continuei com minhas teorias e meus discursos, não me dei por cansado e não deixei morrer minha empolgação, não me curvei diante do falso poder e da opressão que escravizava/escraviza e faz sofrer muitos professores neste país. Em mim falavam mais alto meus sonhos e minha ousada determinação em querer mais, em ir mais longe, em ver de outras formas, em buscar perspectivas que me ajudassem a entender tudo o que me acontecia e também o que nos acontecia nos muitos espaços-tempos do aprender.

            Um professor forjado na efervescência do fazer socioeducativo precisa, não de vez enquanto, ma sempre, insistir, persistir, resistir, acreditar, revolucionar. A maior força, a mais poderosa energia capaz de mover mundos, de desinstalar sistemas, de provocar mudanças e transformações está dentro dele, está com ele, está nele: sua capacidade ilimitada de acreditar que a vida, ainda que frágil, é a mais poderosa possibilidade no mundo. Eu ainda não sabia disso, meus estudos, minhas teorias, minhas buscas, minhas inquietações, meus desencontros e encontros com tantos outros ajudaram a chegar nesta fantástica descoberta.

            O que move meu universo de educador é essa arrebatadora vontade de defender a vida em todas as suas dimensões. Impossível não acreditar nisso quando olhava para os olhos de um aluninho e via para além daquele olhar o seu desejo de ser mais, de fazer-se mais, de transcender sua realidade; impossível não acreditar naqueles e naquelas que me escreviam bilhetinhos de agradecimento porque eu os procurava entender; impossível não acreditar na beleza do encontro com os muitos colegas que me ajudavam a fazer um planejamento, a encontrar os caminhos mais favoráveis a uma prática educativa libertadora; impossível não acreditar no valioso respeito compartilhado entre os pares – professoras e professores que ao invés de me deixar de fora, me colocavam para dentro – dentro das trocas solidárias de saberes, dentro das rodas de conversa e de partilha da vida, sofrida em muitos momentos, mas dignificada pelo carinho, pela acolhida, pela ternura emergida nos intervalos, nos recreios, nas reuniões.

            Foram muitos os colegas que me ajudaram a construir pontes, derrubar muros, atravessar altas marés, criar caminhos; foram as gentes da educação que me deram apoio e me permitiram continuar fazendo minha história. Por isso, um educador forjado na solidariedade, no compartilhamento altruísta, na respeitosa convivência, na co-responsabilidade, na escuta atenta e no olhar curioso jamais pode se dar por acabado, jamais pode se dar por concluso. Um educador forjado nesse território fértil de embates e de valores segue fazendo sua história acreditando que a vida ainda não revelou, não descortinou tudo o que ela precisa desvelar/descortinar; segue acreditando que é preciso confiança na capacidade humana de amar e de libertar; segue acreditando que os sentidos são construídos desde que se possibilite a si mesmo e aos outros o exercício da extraordinária capacidade de sonhar os sonhos possíveis.

            Meu sonho, talvez seja do tamanho do mundo, mas acredito que seja possível de realização. Meu sonho é que a VIDA e tudo o que há nela, seja, estupendamente VALORIZADA, RESPEITADA, CUIDADA, EMPODERADA! Sonho com a qualificação do viver das gentes desde as favelas, morros, becos até os grandes centros. Sonho mesmo é com os sonhos das crianças que ainda passarão pelas escolas. É com este ato sonhado e que acredito possível que parabenizo a todos nós, Educadores e Educadoras deste país e, em específico, desta terra (Barra Velha) que me ajudou a tornar-me o professor que sou. Parabéns para nós!

 
Lembro aqui e agradeço os espaços de atuação profissional:

 
Escola Antonia Gasino de Freitas, onde comecei minha experiência docente, em 1993; Escola Manoel Antonio de Freitas, onde continuei minhas incursões pelo fazer docente (1998) e onde aprendi que a Educação é uma prática política, como afirma Freire; a Escola Astrogildo Odon Aguiar, onde estudei desde a 5ª Série ao Ensino Médio e onde, por pouco tempo (2001), atuei como professor do Ensino Médio; Escola David Pedro Espíndola, onde sem saber, iniciei minha caminhada de aluno-sujeito (1978) e onde por pouco tempo trabalhei como substituto (1999), no ensino religioso - lá também desenvolvi minha pesquisa de doutorado; à Educação de Jovens e Adultos, à época CEJAM onde atuei como professor e Coordenador e muito aprendi com a Educação de Jovens e Adultos; à APAE de Barra Velha, onde juntos construímos o PPP e com os parceiros de diálogos muito aprendi sobre o valor das diferenças e dos diferentes; ao Centro Educacional Canguru, onde atuei como professor dos Anos Finais e por um tempo como Assessor Pedagógico; ao Centro Universitário de Jaraguá do Sul – UNERJ, hoje PUC, onde iniciei meus caminhos na atuação no ensino superior, em Barra Velha e posteriormente, em Jaraguá do Sul; ao SENSUPEG onde trabalhei nos cursos de Especialização; à UNIASSELVI, onde atuei como professor na formação dos Pedagogos, em Barra Velha; aos muitos lugares e recantos dos Estados do Sul e deste país onde proferi palestras e falei das minhas teorias ideias seja assessorando na construção dos PPPs e matrizes curriculares, ou apenas falando e partilhando inquietações comuns e pontos de vistas e perspectivas outras de mundo e de educação; à Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, onde me encontro trabalhando na formação de professores - Pedagogos-Pedagogas; às escolas já citadas no município de Barra Velha e à Escola de São João do Itaperiú – Elvira Faria Passos, onde desenvolvi os estudos do mestrado e da tese de doutorado; enfim a todos aqueles e aquelas que estão em mim e fazem parte do profissional que tenho me permitido ser, meu mais sincero obrigado e que possamos seguir, fazendo história e, com isso, Ser neste mundo, a diferença.
 
NOGUEIRA, Valdir.

sábado, 8 de setembro de 2012

EDUCAÇÃO: QUAIS DESAFIOS? QUAIS PROPOSTAS?




EDUCAÇÃO: QUAIS DESAFIOS? QUAIS PROPOSTAS?
PISTAS DE REFLEXÃO E DE AÇÃO AOS CANDIDATOS A PARTIR DOS DOCUMENTOS ORIENTADORES DA EDUCAÇÃO NO PAÍS E NO MUNICÍPIO


“A forma de viver e projetar a educação hoje, define o modo como se viverá e projetará a educação amanhã, portanto, o hoje educacional é também elemento de planejamento, de tomada de decisão, é ação de “futurição” (SOUZA, 2001). O como se pensa, propõe, entende, encaminha, define, sistematiza a educação hoje, implica em como ela será vista, pensada e projetada amanhã” (NOGUEIRA, 2008, p. 10).


            A escrita apresentada como epígrafe é parte de um texto que escrevi para a apresentação do Plano Municipal de Educação, trabalhado, escrito e apresentado à comunidade/sociedade barravelhense em 2008. Nele figuram a missão, a visão os objetivos, o diagnóstico, as diretrizes, as metas, o compromisso, o cronograma de execução e as fontes previstas de recursos para que tal plano se efetivasse no contexto da educação Municipal - Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio; o Ensino Superior e as Modalidades Educativas/De Ensino: Educação de Jovens e Adultos, Educação a Distância, Tecnologias Educacionais, Educação Tecnológica, Formação Profissional e Educação Especial, Educação do Campo; Formação Profissional e Valorização do Magistério e Financiamento e Gestão da Educação.
            Esse conjunto de proposições marcou o movimento desencadeado pela equipe gestora da época na construção de um documento/lei importante e em consonância com as exigências do Plano Estadual de Educação (PEE) e o Plano Nacional de Educação (PNE). Contou com a colaboração e a consultoria de pessoas especializadas, dentre as quais eu estava envolvido e, nesse contexto, os vários níveis e sistemas educativos – o municipal, o estadual e o privado, com seus respectivos profissionais e com a colaboração da comunidade. No momento da apresentação das propostas, quando da minha fala ao público, frisei que:

 “Não há sentido em estabelecer um quadro de metas e ações pautadas em diretrizes comuns quando não se coloca determinado plano no âmbito das vivências históricas de um determinado grupo, como escolha de um dado universo social. A lei estabelece um quadro de metas e diretrizes, mas é preciso a ação do sujeito que constrói, com autonomia, a sua história e a história social para que tal lei se torne direito e, como tal, seja exigida como dever das instâncias envolvidas – públicas e privadas. Isso coloca a educação num quadro de responsabilidade compartilhada, num compromisso que deixa de ser apenas institucional e passa a ser comunitária” (NOGUEIRA, 2008, p. 09).

            Quatro anos se passaram desde a construção do plano e, atento a essa temporalidade e às propostas apresentadas no documento com prazos de integralização entre 2008 e 2013, questiona-se: que desafios o Plano Municipal de Educação apresenta aos candidatos à Prefeitura e à Câmara de Vereadores? Em que aspectos o Plano Municipal de Educação, se considerado, ajudou/contribuiu no avanço qualitativo do Sistema Municipal de Educação? Como esse documento/lei de ordem pública e de direito da Comunidade, influenciou ou tem influenciado as propostas dos novo-velhos candidatos? Que diagnósticos se fez/faz na Educação Municipal a partir dos pilares apresentados nas diretrizes e nos objetivos desse documento?
            Além do Plano Municipal da Educação, no ano seguinte, outro desafio se apresentou ao Sistema Educativo do Município, neste momento, sob nova gestão educacional – a construção e desenvolvimento da Conferência Municipal da Educação, como exigência da Conferência Nacional de Educação – CONAE, em consonância com o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) e o Plano Nacional de Educação (PNE).
            Ao considerar as minhas preocupações com a educação, em sentido geral e já tendo concluído meu doutorado em educação (UFPR), tive o prazer e a honra de poder contribuir, nesse momento, para pensar o Sistema Educativo Municipal junto à nova gestão. Coordenei conjuntamente com a equipe gestora da Secretaria Municipal de Educação, os trabalhos da Conferência nos vários grupos que se formaram nas escolas das redes municipal, estadual e privada e orientei os grupos no levantamento de elementos fundantes das necessidades e das proposições educativas do município.
            A Conferência Municipal da Educação, nesse momento, estava orientada pelos referenciais nacionais e pelas necessidades de se pensar em sistemas educativos articulados e em perspectiva sistêmica. No momento do Seminário para a apresentação das Sínteses – a Conferência propriamente dita, em minha fala de abertura, tratei de salientar que:


“Uma educação-força do e no lugar desenvolve processos socioeducativos e propostas pedagógicas articuladas, conectadas às múltiplas redes que compõem os currículos e estes, por sua vez, devem traduzir, nessas interconexões, os projetos de sociedade, de homem, de mundo, de cultura, de modo de vida que se quer desenvolver e construir no lugar. A força do lugar dá força ao sentido da escola e da educação local. Um sentido marcado pelo valor jurídico-político das formas como se pensam, projetam e praticam os atos educativos. Assim, uma educação com identidade própria, porque é originaria de um lugar pertencido e identificado com as marcas do povo, serve e deve servir de modelo, de base para outras realidades. Isto porque tal educação, ao valorizar a força do lugar, na dimensão de um sistema, sustenta-se em um conjunto de leis e de políticas que lhe são referenciais, que lhe são suporte para que se desenvolva ao desenvolver o lugar. Um lugar onde praças, parques, construções, monumentos, espaços públicos, de modo geral, são preservados, conservados, pois, como objetos socioespaciais, marcam a identidade de um povo, a sua cultura, o seu modo de vida e mostra a efetividade do papel da educação nessa realidade” (NOGUEIRA, 2009, p. 14).


            A escrita explicitada anteriormente, foca preocupações que orientaram os levantamentos realizados (diagnósticos) e as proposições encaminhadas na Ata que fora apresentada na Conferência Estadual e que, por sua vez, passaria a compor as discussões da Conferência Nacional, focando-se os eixos, a saber: EIXO TEMÁTICO I - Papel do Estado na Garantia do Direito à Educação de Qualidade: Organização e Regulação da Educação Nacional; EIXO TEMÁTICO II - Qualidade da Educação, Gestão Democrática e Avaliação; EIXO TEMÁTICO III - Democratização do Acesso, Permanência e Sucesso Escolar; EIXO TEMÁTICO IV - Formação e Valorização dos Profissionais da Educação; EIXO TEMÁTICO V - Financiamento da Educação e Controle Social; EIXO TEMÁTICO VI - Justiça Social, Educação e Trabalho: Inclusão, Diversidade e Igualdade.
            Esses eixos eram discutidos, problematizados e perspectivados considerando-se as realidades educativas contemplando-se os problemas, as carências, as ações e as responsabilidades (instâncias e sujeitos). Ainda, nesse sentido, ao final da minha exposição, apresentei algumas preocupações e indicações aos presentes, de modo que o documento em construção, antes de servir como colaboração à construção da Conferência Nacional de Educação, servisse primeiramente, como referencial substancial à Educação Municipal e ao seu desenvolvimento. São proposições que, no meu entender, servem como provocações aos candidatos no pleito atual das eleições municipais, a saber:

1.    ampliar, no contexto de Barra Velha, o entendimento e as propostas para atender às diversidades; singularidades que habitam e dão identidade ao espaço sociocultural, político e econômico do município;

2.    articular políticas da educação às políticas da administração – gestão do lugar - (enquanto papel do sistema municipal), de  forma que se ampliem as redes de fortalecimento do lugar;

3.    Articular o papel do sistema jurídico (Legislativo) com o sistema educativo, de forma que a legislação educacional se atualize na legislação municipal, ou ainda, atualização da legislação municipal de acordo com a legislação educacional;

4.    empreender, na perspectiva sistêmica, um processo de construção de propostas educativas vinculadas aos trabalhos desenvolvidos nos estudos e discussões dos eixos da CONAE;

5.    estabelecer políticas de pesquisa e avaliação do sistema municipal de educação considerando as produções constadas no PNE, PME e CONAE;

6.    estabelecer diálogos entre os diferentes níveis da realidade socioeducativa do município: Escolas Estaduais, Particulares, Ongs, Associações, entre outras, com as realidades socioculturais que dão identidade ao lugar;

7.    desenvolver proposta educativa pautada na ciência, no papel basilar da teoria de forma a construir referenciais criativos e democráticos, normativos e valorativos;

8.    projetar, contextualmente, a educação municipal e com ela o município, a partir de padrões de referência qualificados, estabelecendo-se as relações parte-todo (NOGUEIRA, 2009, p. 16).

            Estas proposições e as discussões apresentadas pelos grupos de educadores envolvidos e, pelos referenciais que nos orientaram, nos ajudaram a avançar em relação aos aspectos tratados no Plano Municipal de Educação de 2008. Assim, na transição de um ano ao outro, dois documentos importantes foram construídos no contexto da Educação Municipal para orientar e contribuir no desenvolvimento qualitativo da mesma.
            Por isso, ao considerar esses dois documentos dos quais participei efetivamente na construção, questiono nossos candidatos: Seus planos de governo estão em acordo com essas proposições e ajudam o Sistema Educativo Municipal a avançar ou apenas continuam com as tradicionais e ultrapassadas formas de pensar/propor educação focados, somente, na construção de salas de aula, creches e ampliação dos espaços físicos? Isso é importante, mas não se faz educação de qualidade apenas com salas, quadro e giz. A educação exige muito mais do que isso. Exige projeto. Exige comprometimento. Exige responsabilidade com a construção da sociedade. Exige perspectivação/futurição nos modos de se conceber e propor os modos de intervenção e engajamento do Sistema Educativo Municipal na comunidade, na cidade, no contexto do município. Pergunto: como isto está previsto, projetado, pensado nos programas de governo de candidatos a prefeito e nos ideais dos candidatos às vagas na Câmara de Vereadores?
            Para ampliar essa discussão e as minhas provações (saudáveis provocações!) aos candidatos, vou aos dados do recentemente publicado IDEB - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (BRASIL, 2011), destacando, numa análise simples, a situação de Barra Velha – Educação Municipal, nos quadros comparativos do referido índice. Esses índices podem nos ajudar a apontar elementos importantes e fazer alguns outros questionamentos, principalmente se cruzarmos os dados com a força dos documentos construídos nos anos de 2008 e 2009 e, ainda, destacando-se o Projeto pedagógico do Município que afirma:


Os inúmeros problemas educacionais e o verdadeiro papel da educação formal são motivos de ampla discussão na sociedade moderna. Urge empreender um esforço coletivo para vencer as barreiras e entraves que inviabilizam a construção de uma escola pública que eduque de fato para o exercício pleno da cidadania e seja instrumento real de transformação social [grifos meus], espaço em que se aprenda a aprender, a conviver e a ser com e para os outros, contrapondo-se ao atual modelo gerador de desigualdades e exclusão social que impera nas políticas educacionais de inspiração neoliberal” (BARRA VELHA, 2007, p. 05).


            Segundo Ministério da Educação (BRASIL, 2009, p. 33), o IDEB foi criado face aos desafios atuais da qualificação da educação pública brasileira. Neste sentido, o documento citado afirma: “Esta iniciativa do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP – é pioneira por reunir num só indicador dois conceitos igualmente importantes para a qualidade da educação: fluxo escolar e médias de desempenho nas avaliações. Ele agrega ao enfoque pedagógico dos resultados das avaliações em larga escala do INEP a possibilidade de resultados sintéticos, facilmente assimiláveis, e que permitem traçar metas de qualidade educacional para os sistemas de ensino”. Para tanto, o MEC, por meio de INEP, avalia a educação pública nacional a partir do indicador que é resultante da combinação de dois outros indicadores: a) pontuação média dos estudantes em exames padronizados ao final de determinada etapa do ensino fundamental (4ª e 8ª séries) e 3º ano do ensino médio e b) taxa média de aprovação dos estudantes da correspondente etapa de ensino (BRASIL, 2009).
            A média nacional no IDEB dos Anos Iniciais, total geral, foi de (5.0) - rede pública (4.7). Deste indicativo, índice estadual com (5.1) e municipal com (4.7). O IDEB dos Anos Finais, total geral (4.1), rede pública (3.9) – estadual (3.9), municipal (3.8). Os quadros, a seguir, mostram esses indicadores:



Anos Iniciais do Ensino Fundamental


IDEB Observado
Metas

2005
2007
2009
2011
2007
2009
2011
2013
2021

Total
3.8
4.2
4.6
5.0
3.9
4.2
4.6
4.9
6.0

Dependência Administrativa

Pública
3.6
4.0
4.4
4.7
3.6
4.0
4.4
4.7
5.8

Estadual
3.9
4.3
4.9
5.1
4.0
4.3
4.7
5.0
6.1

Municipal
3.4
4.0
4.4
4.7
3.5
3.8
4.2
4.5
5.7

Privada
5.9
6.0
6.4
6.5
6.0
6.3
6.6
6.8
7.5

Fonte: BRASIL/MEC.

Anos Finais do Ensino Fundamental


IDEB Observado
Metas

2005
2007
2009
2011
2007
2009
2011
2013
2021

Total
3.5
3.8
4.0
4.1
3.5
3.7
3.9
4.4
5.5

Dependência Administrativa

Pública
3.2
3.5
3.7
3.9
3.3
3.4
3.7
4.1
5.2

Estadual
3.3
3.6
3.8
3.9
3.3
3.5
3.8
4.2
5.3

Municipal
3.1
3.4
3.6
3.8
3.1
3.3
3.5
3.9
5.1

Privada
5.8
5.8
5.9
6.0
5.8
6.0
6.2
6.5
7.3

Fonte: BRASIL/MEC.

            O interessante é estabelecer um comparativo com os dados do Estado de Santa Catarina, onde a nota final, nos anos iniciais foi superior à média nacional, ficando o Estado com média (5,7) e, no contexto dos anos finais, a média foi de (4.7), também superior à média nacional. Ao fazer um comparativo dos dados do Estado de Santa Catarina com os dados nacionais e, colocando nesse contexto, Barra Velha, temos as seguintes médias: em relação aos anos iniciais, Barra Velha ficou com média (5.1), chegando a atingir as metas projetadas – IDEB com índice de (4.8), considerando-se as três escolas avaliadas, ambas superando as metas para 2011 assim previstas: Escola A – Meta prevista (4.7) obteve média 5.2; Escola B – Meta prevista (4.4) obteve média (4.9); Escola C – Meta prevista (4.2) obteve média (4.8). Uma escola cadastrada no sistema não obteve avaliação.
            O índice geral do Município – Escolas Municipais cadastradas para a avaliação, ficou com média (4.8), abaixo da média estadual e um ponto (1.0) superior à média nacional, que foi de 4.7 para as redes municipais, mas no contexto nacional geral, também ficou abaixo da média com (5.0) nacional, para (4.8) municipal – Barra Velha. O quadro organizado, a seguir, explicita essa pontuação:




Anos Iniciais do Ensino Fundamental


IDEB Observado
Metas

2005
2007
2009
2011
2007
2009
2011
2013
2021












Dependência Administrativa

Nacional
3.8
4.2
4.6
5.0
3.9
4.2
4.6
4.9
6.0

Estadual
  4.3
  4.7
  5.1
  5.7
  4.4
  4.7
  5.1
  5.4
   6.4

Municipal
  4.0
  4.3
  4.8
  5.1
  4.1
  4.4
  4.8
  5.1
6.2












Dados organizados pelo autor. Fonte: BRASIL/MEC.
IDEB – dados gerais das médias 2011

            Um aspecto significativo dos dados apresentados é o de que, no geral, o município atingiu sua meta para 2011. Isto leva a pensar que houve significativa preocupação da rede municipal do ensino com as práticas e as propostas desenvolvidas nos anos iniciais do ensino fundamental. De 4.0 alcançados em 2005 para 4.8 – índice geral das escolas no campo das metas, e 5.1 na média em 2011, o município alcançou uma pontuação significativa.
            Ainda que sejam apenas três escolas avaliadas segundo os critérios do INEP, estes dados apontam elementos para se pensar nas demais escolas de anos iniciais da rede municipal de educação, tais como: os campos (áreas) de avanço; as práticas; os modelos de trabalho e de formação desenvolvidos; as propostas e os apoios em termos de recursos e acompanhamentos. Também, estes indicadores podem ajudar a refletir sobre a situação dos Anos Finais do Ensino Fundamental, com médias abaixo dos índices alcançados pelo próprio município, se comparados com os anos iniciais.
            A média final alcançado pelo município nos anos finais do ensino fundamental foi de (4.2) – média inferior às metas para 2011 (4.3) e, nesse contexto, ficou abaixo de Estado (4.7), com meta prevista de (4.6). Em relação ao contexto nacional, a rede municipal ficou com índices superiores, uma vez que a média geral brasileira foi de 4.1 e de 3.8 para a média dos municípios em todo o território nacional. Isto é um indicador positivo se formos pensar essas relações comparativas. No entanto, cabe um questionamento: o que provoca essa diferença entre índices alcançados nos anos iniciais e nos anos finais, uma vez que a rede municipal atende apenas com duas escolas esse nível de ensino?
            Se comparadas às duas escolas, as médias baixaram em relação ao índice de 2009 e às metas previstas para 2011, como segue: Escola “A” – (4.0) em 2009, (3.7) em 2011, com meta prevista para o mesmo ano de (3.9). Em 2007 a avaliação desse nível de ensino atingiu uma média de (3.6), ficando um ponto abaixo da média obtida em 2011 (3.7). Em aproximadamente quatro anos, a escola “A” apenas avançou um ponto na média. A escola “B” obteve média (4.4) em 2009 e (3.9) em 2011, com meta prevista para o mesmo ano de (4.0). Ainda que tenha médias mais elevadas que a escola “A”, houve queda de 2009 para 2011. Se comparar as médias entre os anos de 2007 (3.7) e 2011 (3.9), houve um avanço na avaliação.
            O importante, neste caso, é perceber que, com apenas duas escolas de Ensino Fundamental – Anos Finais, o município apresentou médias inferiores entre si e também no contexto do Estado de Santa Catarina. Nesse sentido, levanto alguns questionamentos: o que faz com que o avanço apresentado nos Anos Iniciais fique distanciado do não-progresso nos Anos Finais? Que aspectos estão implicando nessa baixa das médias, no contexto da educação municipal? Que elementos têm sido determinantes ou influenciadores diretos nessa apresentação dos indicadores? Os quadros, a seguir, ilustram os dados apresentados:


Anos Finais do Ensino Fundamental


IDEB Observado
Metas

2005
2007
2009
2011
2007
2009
2011
2013
2021












Dependência Administrativa

Nacional
3.5
3.8
4.0
4.1
3.5
3.7
3.9
4.4
5.5

Estadual
  4.1
  4.1
  4.3
  4.7
  4.1
  4.3
  4.6
  5.0
6.0

Municipal
  3.9
  4.1
  4.4
  4.2
  3.9
  4.1
  4.3
  4.7
5.9












Dados organizados pelo autor. Fonte: BRASIL/MEC.
IDEB – dados gerais das médias 2011



Anos Finais do Ensino Fundamental


IDEB Observado
Metas

2005
2007
2009
2011
2007
2009
2011
2013
2021












Dependência Administrativa












Escola A

3.6
4.0
3.7
 
3.7
3.9
4.2
5.3

Escola B

3.7
4.4
3.9
 
3.8
4.0
4.3
5.4












Dados organizados pelo autor. Fonte: BRASIL/MEC.
IDEB – dados gerais das médias por escolas 2011


            Ao pensar esses dados e, na tentativa de articulá-los às propostas já citadas em outro momento no corpo desta matéria, temos que levar em consideração três relações importantes: 1) A relação entre médias do IDEB e políticas educativas, considerando-se o PME, as perspectivas da CONAE, o PDE e o PNE; 2) A relação entre os objetivos da educação, apresentados no Projeto Político Pedagógico do Município e os objetivos e metas das propostas subseqüentes a este – PME e CONAE, PEE, PNE, considerando-se que os objetivos do PPP[1] municipal parecem estar aquém do previsto nas outras políticas; 3) As relações entre organização, estruturação e planejamento dos modos de operacionalizar as práticas socioeducativas no contexto do município de Barra Velha, considerando-se a validade e a necessidade dos indicadores do IDEB e os diagnósticos da rede, apresentados nos documentos já citados, entre outros, urgentemente necessários a serem realizados.
            Estas relações apontam algumas pistas e/ou provocações outras para os candidatos à prefeitura e à Câmara de Vereadores: a) mecanismos e/ou tecnologias educacionais (políticas e práticas) previstas ou não em seus programas de governo; b) estratégias de ação e de organização de políticas socioeducativas fundadas nas correlações com as políticas Estaduais e Nacionais; c) formas de investimento humano, técnico e científico nos trabalhos da equipe gestora da educação municipal – proposições que avancem para além da expansão física e da prática de reformas de prédios; d) mecanismos subsidiados de acompanhamento e de avaliação dos resultados e das previsões/perspectivas de intervenção nos modos de atuar e de projetar a educação municipal.
            Tais provocações apresentadas, oriundas da análise que vem se fazendo, somam-se ao que propõe o documento orientador do Ministério da Educação, no que diz respeito à gestão territorial e intersetorial da educação, no âmbito do Programa Mais Educação, seja na escala nacional ou na escala local e que servem como pistas de ação para todo o sistema educativo, como segue: “Potencialidades das políticas e programas para o público infanto-juvenil no território (recursos humanos, técnicos e metodológicos); metodologias de produção e análise de informações, bem como sua divulgação; implementação de ações pactuadas, monitoramento e avaliação” (MEC, 2009, p. 42).
            Esse entendimento, no campo das ações, nos faz entender e, nesse sentido, chamo a atenção para os candidatos, que não é somente uma equipe gestora na/da Secretaria de Educação que deve atender e promover, de forma eficiente, eficaz e qualitativa a educação numa rede municipal de ensino. É necessário todo um esforço coletivo, envolvendo a comunidade e, principalmente, os proponentes de outras formas/modos de governar o município, neste caso, prefeito e vereadores – desde que tenham proposta coerente e busquem entender e dialogar de forma mais aberta sobre estes desafios e dinâmicas gestoras das políticas socioeducativas. Assim, conforme MEC (BRASIL, 2009, p. 12), é importante atentar para o fato de que:


“A sociedade brasileira vem construindo compromissos em torno do direito à educação de crianças e adolescentes. Tais compromissos tomam forma na legislação, nas campanhas e movimentos protagonizados pela sociedade civil e iniciativas governamentais nas três esferas de governo. Essa trajetória, ao reconfigurar os compromissos para garantir o direito ao desenvolvimento integral de crianças e adolescentes, traz novos desafios para a agenda pública do país”.


            Nessa direção, um dos grandes desafios que se coloca, se formos pensar a necessidade de superação dos índices baixos e a manutenção e/ou elevação dos índices positivos na avaliação – IDEB e a valorização do magistério e das práticas educativas voltadas à formação cidadã, como proposto no PPP do município, é a construção de um projeto político-educativo, uma agenda pública que integre e aprofunde epistemológica, metodológica e valorativamente as relações entre setores da administração pública (intersetorialidade) e programas propostos no âmbito nacional - programas nacionais ministeriais[2] que, no meu entender, constituem-se em desafios e pistas de ação para os futuros governantes do município na direção empoderar a educação municipal.
            Os programas/propostas governamentais em escala nacional nos ajudam a entender a fundamental importância da correlação de forças na construção de políticas e projetos socieducativos que qualifiquem e ampliem os sentidos da educação escolar nos diferentes níveis de ensino e, com isso, qualifiquem os espaços da cidade e do município. Assim, diante de tantos programas e do oferecimento de propostas, pelo governo federal, questiona-se: é possível que se faça educação e se pense um sistema educativo apenas sob o ponto de vista da gestão dos recursos humanos e dos espaços físicos? Insisto nesta questão, pois, o que se ouve comumente em propagandas político-partidárias nestas eleições voltam-se somente para estas demandas: demanda funcional, demanda de ampliação dos tempos, demanda física.
            As propostas, no meu entender, precisam gerar em torno de três dimensões fundantes de um sistema educativo: A dimensão Propositiva (Projeto, concepções e práticas); A dimensão Política (bases epistemológicas e referenciais – visão/projeção de mundo, de sociedade, de cidade, de cidadania, diretrizes); A Dimensão Pedagógica (Organizacional-infraestrutural e técnica – recursos humanos, didáticos e práticos). Estas dimensões e outras que se possam acrescentar, pois uma proposição socioeducativa precisa, nos dias de hoje, ser compreendida e efetivada a partir de visão multidimensional, requerem que, fundamentalmente estejam entrelaçadas às perspectivas e anseios, sonhos e projetos dos sujeitos, das pessoas que dão forma e sentido às práticas e às políticas educativas em dada realidade social. Por isso, são desafios, aos candidatos e no contexto de suas propostas ou não, que se pensem:


a)    as relações escola-cidade-campo, respeitando-se as especificidades de cada realidade escolar e contextual;

b)    a intersetorialidade como mecanismo de base e de fortalecimento das políticas educativas;

c)    a valorização do magistério, não apenas sob o ponto de vista dos salários – isto é luta nacional e ganho firmado, mas também sob o ponto de vista da sua formação e da sua inserção social e engajamento político-pedagógico na construção e divulgação do que se constrói na rede pública como proposta socioeducativa – professor como produtor do conhecimento e autoridade profissional no campo educativo;

d)    a saúde, a segurança, a alimentação e o transporte adequados e qualificados aos sujeitos freqüentadores dos espaços escolares e socioeducativos, nos vários contextos e lugares;

e)    o desenvolvimento de pesquisas e a publicização das informações, como construção de saberes e fazeres pedagógico-didáticos próprios da realidade escolar municipal;

f)     atendimento adequado e qualificado nos diferentes níveis de ensino – da Educação Infantil aos Anos Finais do Ensino Fundamental, com garantias de profissionais qualificados e com projeção de metas e ações sustentadas em princípios e valores humanos;

g)    desenvolvimento de propostas e/ou parcerias que potencializem a Educação de Jovens e Adultos, a Formação Profissional e o Ensino Superior, como substancial forma de valorização do potencial humano que habita o município;

h)   valorização e desenvolvimento de políticas para a juventude, a exemplo dos comitês para a infância e a juventude;

i)     organização de formas de trabalho, de estudo e de atendimento à Educação Especial, Do Campo, Indígena (se preciso), Étnico-racial; Dos Direitos Humanos etc., como possibilidades de ampliação dos aportes e das agendas educativas municipais; e, por fim,

j)      Construção de um Plano Sociopedagógico pautado em perspectiva Socioambiental que vise as interrelações escola-comunidade-governo-sociedade, como investimento voltado ao desenvolvimento de uma sociedade saudável e feliz.  

            Essas proposições e inquietações supracitadas passam pela construção séria e ética de um currículo com diretrizes e matrizes epistemológicas e valorativas que estejam voltadas à potencialização humana; a colaborar efetivamente na construção do projeto humano, desde a realidade sociocultural, econômicopolítica e socioambiental desta pequena, mas linda realidade municipal conhecida como Barra Velha.
            Trabalhei como educador, na rede municipal por cerca de dez anos, fiz minhas pesquisas de Especialização, Mestrado e Doutorado na rede pública porque acredito na escola pública de qualidade e porque respeito e valorizo meu município, minha cidade, por isso, na função que hoje desempenho como profissional do ensino superior, orientando pesquisas e desenvolvendo estudos socioeducativos com apoio do Governo Federal e da Universidade na qual estou funcionário público e considerando os meus referenciais teóricos e princípios político-valorativos, fecho esta matéria sustentando-me em Paulo Freire (2005, p. 19) para afirmar que:

“O compromisso, próprio da existência humana, só existe no engajamento com a realidade, de cujas ‘águas’ os homens verdadeiramente comprometidos ficam ‘molhados’, ensopados. Somente assim o compromisso é verdadeiro”. 


NOGUEIRA, Valdir
Obs.: Proibida a reprodução do texto sem autorização do autor.

REFERÊNCIAS:

BARRA VELHA. PLANO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. Transformar Sempre. Barra Velha: Secretaria Municipal de Educação, 2008.

BARRA VELH. PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO. Barra Velha: Secretaria Municipal de Educação, 2007.

BRASIL, MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Brasília: MEC, 2012. Disponível em http://portal.mec.gov.br/index.php - Acesso em 07 de setembro de 2012.

BRASIL, MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Mais Educação: Gestão Intersetorial no Território. Brasília: Ministério da Educação, 2009.

FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 28 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2005.

NOGUEIRA, Valdir. Plano Municipal de Educação e a construção de uma educação-cidadã e de qualidade em Barra Velha. In. BARRA VELHA. PLANO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. Transformar Sempre. Barra Velha: Secretaria Municipal de Educação, 2008. p. 6-14.

NOGUEIRA, Valdir. Sistema nacional articulado de educação e desenvolvimento da educação em Barra Velha: identidade e força do lugar. Palestra de Abertura da Conferência Municipal de Educação. Barra Velha, 2009.




[1] Em relação ao Objetivo Geral, o documento visa: ”Garantir através do Projeto Político Pedagógico da rede um suporte norteador às Unidades Escolares nas suas dimensões pedagógicas, administrativas e técnicas em conformidade com as leis vigentes”. Nesse sentido, quanto aos objetivos específicos e, nesse contexto, residem algumas lacunas, o documento pretende: Promover ações de incentivo a prática de esporte, cultura e lazer; Participar das reuniões pedagógicas nas Unidades Escolares quando houver  entendimento desta necessidade; Promover formação continuada e dar condições de capacitação para os profissionais da educação, quando que antecipadamente o corpo da Secretaria Municipal de Educação tenha ciência da relevância da carga horária da referida capacitação, da temática e da área do interessado desde em que nenhum momento se incorra em prejuízo pedagógico aos alunos; Promover Concursos e Feiras voltados à estimulação científica com apoio das Unidades Escolares em âmbito municipal, estadual, nacional e internacional; Promover reuniões com gestores e corpo docente conforme necessidade da equipe da Secretaria Municipal de Educação; Promover anualmente avaliação institucional (estrutura física, pedagógica e técnica-administrativa), visando manutenção da qualidade da educação conforme pressuposto filosófico; Revisar anualmente, alterando conforme necessidades o Projeto Político Pedagógico da Secretaria Municipal de Educação e das Unidades Escolares (BARRA VELHA, 2007, p. 07).


[2] São programas que, objetivamente visam dialogar com as políticas e práticas educativas dos sistemas educativos: Programa Casa Brasil Inclusão Digital; Programa Centros Vocacionais Tecnológicos – CVTs; Programa Casas do Patrimônio; Programa Cineclube na Escola; Programa Nacional de Cultura, Educação e Cidadania – Cultura Viva; Programa Nacional de Tecnologia Educacional – Proinfo; Programa Educação Inclusiva – direito à diversidade; Projeto Educar na Diversidade; Programa Escola Aberta; Programa Escola que Protege; Programa Ética e Cidadania; Programa Juventude e Meio Ambiente; Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais; Programa Centro de Referência Especializado de Assistência Social – CREAS; Programa Atenção Integral à Família – PAIF; Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI; Programa ProJovem Adolescente – Serviço Socioeducativo; Programa Esporte e Lazer da Cidade – PELC; Programa Segundo Tempo; Programa Município Educador Sustentável; Programa Sala Verde; Programa Saúde da Escola; Programa Mais Educação; Programa Escola de Gestores da Educação Básica; Programa de Apoio aos Dirigentes Municipais de Educação; Programa Nacional de Capacitação de Conselheiros Municipais de Educação; Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares; Pró-Letramento; Rede Nacional de Formação de Professores; Projeto Saúde e Prevenção nas Escolas; Programa Nacional Biblioteca da Escola; Gestão da Aprendizagem Escolar – Gestar II; Programa Currículo em Movimento, etc. (BRASIL, 2009, p. 79-102).