segunda-feira, 27 de agosto de 2012

DESAFIOS AOS CANDIDATOS


Fonte: Do Autor


OS LUGARES SEGREGADOS E OS DESAFIOS AOS CANDIDATOS: BARRA VELHA EM TEMPOS DE ELEIÇÕES




“Reafirmar o direito à cidade é uma maneira de contraposição à organização dominante da sociedade atual, que quer se autodenominar “globalizada”, ressaltando uma tendência de homogeneização de seus espaços. A defesa do direito à cidade para todos os seus habitantes parte do entendimento de que a produção de seu espaço é feita com a participação desses habitantes, obedecendo a suas particularidades e diferenças. Trata-se de defender a necessidade de uma cidade com gestão democrática, que busca mediar interesses e ações de uma ordem socioeconômica mais geral com os interesses e ações mais imediatas e elementares, nem por isso menos importantes para a vida humana, do cotidiano de seus moradores” (CAVALCANTI, 2008, p.83)



            Como os candidatos em processo de eleição, seja para a ocupação do cargo de Prefeito, ou para a ocupação das vagas na Câmara de Vereadores, tratarão ou pretendem tratar os espaços de segregação produzidos na cidade e em outros lugares do município de Barra Velha? Como esses espaços aparecem em seus projetos ou propostas de campanha? Serão estes lugares segregados, espaços para promessas eleitoreiras e para o esquecimento, ou entrarão na pauta como territórios prioritários de cuidados e de qualificação? Qual o projeto de desenvolvimento para os espaços urbanos (bairros, entorno, praças, ruas, campo etc.) no projeto dos candidatos à Prefeitura e à Câmara de Vereadores? É nessa direção que pretendo levantar alguns pontos de discussão nesse tempo de campanha político-partidária.
            Algumas discussões de outrora sobre os acontecimentos últimos da cidade e do município, em geral, já se deram por esgotadas. Precisamos é pensar o que vem pela frente, com os pés firmes no presente, na tentativa de evitar erros futuros, já cometidos num passado não muito distante – talvez, no ontem.  Assim, pensemos Barra Velha, nosso lugar comum; nosso princípio de sociedade-mundo como propõe Morin (Et. al. 2007).
            Para percorrer esse caminho de reflexões, me sustentarei nas discussões de Cavalcanti (2008), que apresenta aspectos importantes das relações entre produção do espaço urbano e educação. Diga-se, uma educação para a cidadania e para a cidade. Ainda, nesse sentido, irei apresentar fotografias de minha autoria, que retratam alguns desses espaços “segregados” no contexto da cidade de Barra Velha e, que, no meu entender, requerem um olhar atento e exigente de toda a população e, em específico, dos candidatos aos cargos públicos. 
            Como escreve Cavalcanti, “As cidades são hoje locais complexos, [...] são expressão da complexidade e da diversidade da experiência humana, da história humana”; são espaços-tempos de existência da diversidade humana que expressam, em sentido amplo, a riqueza cultural do povo que habitam esses espaços – dos mais próximos aos mais distantes: bairros e ruas, becos, morros, vilas, entornos e adjacências da relação centro-periferia e, ainda, destas com o campo; com as áreas agricultáveis e de onde surgem as forças da produção agrícola e hortifrutigranjeira de um município.
            As cidades são a força do povo e, destes, resultam as forças das cidades. Por isso, questiono: como essas relações de forças têm configurado os discursos e as proposições dos futuros ocupantes dos cargos públicos na Prefeitura e na Câmara Municipal de Barra Velha? Para ajudar a pensar nesse questionamento, vou a outro ponto levantado por Cavalcanti (2008, p. 63), a partir de Lefebvre (2002, p. 68): “O urbano é o possível [...]”.
            O espaço urbano é um espaço de possibilidades, de encontros de lógicas, de perspectivas, de intenções, de ações e de projeções. É um recorte socioespacial que apresenta riquezas das quais, nem sempre, toda a população de uma cidade e/ou município consegue fazer uso ou desfrutar. Por exemplo, as praças, as ruas bem planejadas, os parques, as avenidas sinalizadas, áreas de lazer, de cultura, de entretenimento, de comércio, de circulação da vida e da diversidade dos modos de ser e viver.
Essas possibilidades todas, geralmente estão disponíveis para uns poucos. Na realidade da organização socioespacial urbana, apenas os centros são privilegiados e a periferia e seus entornos ficam à margem. Quantas praças há nos bairros? Como elas são cuidadas? E as ruas, como estão projetadas, planejadas, organizadas? As áreas de lazer, de encontro, de comércios, como estão estruturadas? A segurança e a infraestrutura dessas áreas, como estão e poderão ser mantidas, qualificadas? De que forma a população tem participado desses espaços? Com que qualidade?
            Cavalcanti (2008, p. 63) sustenta que “[...] existe uma forte conexão entre a produção desse lugar e a cultura das pessoas que nele vivem”. No entanto, cabe perguntar: qual tem sido o lugar da participação das pessoas e de sua cultura no planejamento, na estruturação, na organização e no desenvolvimento de espaços-possíveis na lógica do urbano, no contexto da cidade de Barra Velha? O que se vê muitas vezes são ruas e casas que se apresentam como lugares segregados, deixados de lado, abandonados à sorte em termos infraestruturais e de valorização do potencial humano que ali vive.

Área próxima ao centro da cidade - entorno
Fonte: Do Autor

            Não é apenas abrir ruas de qualquer forma e/ou loteamentos com desorganizadas ofertas de água e luz que as pessoas precisam para se sentirem atendidas e valorizadas pelo que são e vivem. Faltam calçadas, faltam praças, faltam cuidados: esgoto, saneamento básico, limpeza e estética; faltam espaços de encontro, faltam visita e presença constante dos governantes nesses lugares governados e/ou administrados de forma insuficiente e pouco qualificada. É comum dar toda atenção às áreas centrais e as periféricas ficam aguardando a bola da vez, ou seja, esperam, quem sabe, pelas novas e próximas promessas políticas que, neste tempo, sempre se costumam fazer.
            O espaço segregado segundo sustenta Cavalcanti (2008, 77) é um espaço: “[...] com dificuldades estruturais de serviços básicos e de habitação, com problemas de natureza ambiental, como a ampliação de áreas de erosão e a contaminação de águas fluviais, que se têm agravado em decorrência dos processos de ocupação e de produção do espaço urbano”. Em outro ponto das discussões, a autora supracitada (idem. p. 95) avança, destacando que:

“[...] Os cruzamentos de ruas em rotatórias sem sinalização para pedestres e a organização do trânsito são exemplos que mostram bem o privilégio da circulação para os que têm carro. Mesmo as calçadas, legalmente destinadas à circulação de pedestres, encontram-se sempre cheias de carros estacionados, inclusive em estacionamentos planejados pelos comerciantes e prestadores de serviços para atender melhor às necessidades de seus clientes. Essa interdição tem a ver com segregação social, com segregação urbana – segregação de lugares nos pequenos interstícios da cidade, que ocorre por entre ruas, calçadas, lojas, prédios e outros equipamentos urbanos; segregação de áreas inteiras, bairro inteiros “destinados” à classe alta, “impedidos” de circulação ou de usufruto pelos cidadãos em geral; segregação de áreas inteiras “destinadas” à classe baixa, às vezes baixíssima, áreas essas destituídas muitas vezes até do direito de receber serviços públicos mínimos, como correio, telefone público, entrega de objetos de consumo (nessas áreas só circulam seus moradores, já que a “dificuldade” de acesso e o medo da violência e da pobreza afastam as outras pessoas)”.

            Estive em alguns bairros de Barra Velha para fotografar esses espaços apontados por Cavalcanti, percebi o óbvio e me questionei: quantos governos já passam e passarão, ainda, pela administração pública do município, da cidade mantendo as situações encontradas, os descasos, a reprodução da separação, da divisão entre ricos e pobres, entre bem-cuidados e segregados? Quando a qualificação da vida e dos espaços públicos atingirá, no geral, toda a territorialidade urbana e sua população no contexto de Barra Velha? Quais as preocupações, de fato, com a qualidade socioambiental e de saúde, educação, trabalho, segurança, lazer, habitação, moradia, infraestrutura no sítio barravelhense?
  


 
                                                                      Área segregada - loteamento Cohab
                                        Fonte: Do Autor
  Área com calçamento - loteamento com casas padrão
  Fonte: Do Autor


        Citando Villaça, Cavalcanti faz referência às relações de classes na gestão e na organização dos espaços públicos – o urbano e suas demandas e formas de apropriação, como segue:


“Para Villaça (1998), a segregação é um processo por meio de quais classes e grupos sociais vão se concentrando em determinadas regiões ou bairros da metrópole. Ou seja, as classes sociais que podem escolher onde morar na cidade o fazem definindo regiões a serem valorizadas – escolha que obedece a critérios objetivos (como a busca de sítios mais favoráveis à ocupação) e subjetivos (com a seleção de áreas tradicionais pela sua beleza ou por permitir uma determinada vista). Ao fazerem isso, provocam a segregação daqueles que não podem escolher seu local de moradia. A esse primeiro processo, o autor (fazendo referencias também a outros estudiosos do tema) chama de “segregação voluntária”, ou “auto-segregação”, enquanto ao segundo ele chama de “segregação involuntária”, ou “dos excluídos” (CAVALCINTI, 2008, p. 111).
           
           
            Barra Velha não foge à regra, ainda que seja uma cidade pequena, ela, desde já, apresenta os problemas e os desafios das grandes cidades. O direito à cidade e ao lugar ou lugares da e na cidade, não podem ser apenas para alguns ou para os ditos poucos privilegiados. Uma administração saudável e cuidadosa está voltada a atingir, em todas as instâncias e dimensões, a totalidade de sua população e dos ambientes de vida que foram/são construídos nas cidades. Há uma exigência que se reflete no direito de ter direito à cidade e à participação pública com substancial qualidade.
            Muitas políticas públicas ou pseudopolíticas, apenas carregam em si os ranços dessas segregações, dessas fragmentações classistas e de privilégios – onde o dinheiro fala mais alto que a vida e, o que sustentam promover volta-se somente para a melhoria disso ou daquilo – medidas paliativas e enganosas (por isso a venda e a compra de votos são perigosas e infracidadãs). O contrário dessas propostas é uma necessidade urgente: práticas cidadãs de gestão e de perspectivação dos espaços públicos no sentido de torná-los potenciais no desenvolvimento urbano integral, para todos e voltado à sadia e feliz convivência.
           
Não são suficientes os direitos a eleger e ser eleito no governo local, nem o direito à moradia ou à educação. Necessitam-se de direitos mais complexos: a uma participação política múltipla, ao acesso universal às tecnologias informáticas, ao salário cidadão, à formação continuada. O direito à cidade, que, além de moradia, inclui entorno significante, acessibilidade e visibilidade, elementos de centralidade e monumentalidade, equipamentos e entornos qualificados, mistura de populações e atividades (BORJA, 2003 apud CAVALCANTI, 2008, p. 119).

            Essa é uma condição e uma necessidade fundante dos momentos-tempos políticos, nas eleições – não se trata apenas de escolher bem os candidatos, de elegê-los por direito ao voto, mas de pensar com eles e, a partir deles, as propostas de desenvolvimento qualificado e sustentável de todos os espaços componentes desse mosaico entendido como cidade e que: “[...] é, pois, um espaço multicultural, é o lugar da co-presença, da coexistência” (CAVALCANTI, 2008, p.119).
            Como defendi em minha tese de doutorado (NOGUEIRA, 2009): A cidade é um espaço de produção e construção, de tensões, contradições e esperança na teia da vida humana urbanizada, sob lógicas de racionalizações diversas, sobretudo econômicas, culturais e socioambientais. A cidade é o lugar do encontro e da produção do local no global e do global no local. A configuração da paisagem urbana, nas perspectivas histórica, cultural, natural, social etc., evidencia como a cidade é organizada e vivida, enquanto um lugar de muitos outros lugares. Por isso, é inconcebível que, no contexto urbano, na organização da cidade, se exclua os sujeitos da participação do conjunto que é o urbano, relegando a muitos, apenas parcelas desqualificadas e incomunicáveis da cidade.
            Nessa direção, como destaca Cavalcanti (2008, p. 145): “[...] o lugar desse cidadão é a cidade (não somente um “pedaço” na cidade) e ela é seu território, articulado ao seu lugar, superando assim a forma de integração social em fragmentos, para promover a articulação entre os diferentes territórios/lugares da cidade”. Ainda, neste sentido, chamo atenção para outro aspecto do que sustenta a autora:


O fato de não escolherem essas áreas para moradia e de se submeterem as condições tão adversas para a vida cotidiana não impede as pessoas que ali vivem de criar seu próprio mundo, um mundo de afeto, um mundo de referências amigáveis, um mundo de histórias, de práticas culturais, criando, com isso, sua identidade; ao criar seu território, criam seu lugar. Afinal, esses moradores são pessoas comuns, que no cotidiano tentam sobreviver, ganhar a vida; a maioria não vive a violência e outras situações extraordinárias que são frequentemente atribuídas a esses lugares (CAVALCANTI, 2008, p. 132).
           
Área afastada do centro - relação bairros-periferia
Fonte: Do Autor

            Alguns dos muitos lugares do lugar que é Barra Velha apresentam e vivem essa situação, mas como a autora afirma, as pessoas, os habitantes desses lugares não podem sofrer preconceitos e exclusões ou ficar à margem porque estão ou são moradores de determinadas áreas. O que se tem que ver e analisar, nesse ponto, é o fato dessas áreas receberem, de forma adequada e com a mesma proporção que os centros, os cuidados que merecem: iluminação, segurança, paisagismo, projeção arquitetônica, saneamento e ambiente tratado, entre outros aspectos.
            Assim, não finalizando esta discussão – ela abre outras possibilidades temáticas, como por exemplo, as ruas e o lazer, mas tentando apontar algumas pistas ou provocações, segue uma relação de enfoques que gostaria, fossem tratados pelos candidatos aos cargos públicos do município/cidade de Barra Velha, quanto ao que diz respeito aos espaços de segregação e à qualificação da vida das pessoas:


1.    Os problemas de ordem social e econômica na organização desses espaços;

2.    Os processos de urbanização e industrialização que estão associados a eles (não se pode esquecer o papel das imobiliárias e os destinos de impostos ou as concessões às grandes empresas);

3.    A legislação, a jurisdição e a estrutura políticas presentes e ausentes na gestão dessas áreas;

4.    As relações socioambientais – não se tratam apenas de pensar os danos ambientais naturais – morros e mais morros ou áreas verdes sendo destruídas em favor do avanço imobiliário e da urbanização desordenada, mas sobretudo, o modo como a vida é pensada e tratada nessas áreas;

5.    A convivência na cidade: terrorismo, intolerância, tolerância...as praças e ruas dominadas pelo narcotráfico, a ausência de proteção e cuidados, a impossibilidade de ser e estar nesses espaços com segurança e com respeito ao diverso, ao diferente, ao outro;

6.    A violência, o preconceito, a discriminação no espaço sociocultural;

7.    As tradições, os costumes, os grupos étnicos, os movimentos culturais presentes nesses espaços;

8.    As praças, as áreas de lazer, de convivência, os lugares de exercício da cidadania, como lugares de desenvolvimento pleno dos cidadãos;

9.    O trabalho, o comércio, os transportes, a comunicação – paradas de ônibus, oferta de transporte público nesses lugares, redes sociais e espaços de intercomunicação, oferta de trabalho e preocupações com a formação;

10. A participação, o engajamento, a democracia – direito de ir e vir, sabendo-se respeitado, valorizado, potencializado em sendo morador/moradora de áreas consideradas segregadas.

Um Bairro de Barra Velha - área segregada
Fonte: Do Autor

            Retomo os estudos de Cavalcanti (2008, p. 95), para afirmar com ela e os autores citados por ela que: “Se, como diz Lefebvre (1991), a cidade é um lugar de encontro, de festa, ou, como diz Santos (1987), é um lugar da co-presença, é de esperar que ela se abra aos seus habitantes para que eles se manifestem, sozinhos ou em grupos, por suas ruas e praças”.


NOGUEIRA, Valdir.
Obs. Esse texto não pode ser reproduzido sem a autorização do autor.

REFERÊNCIA:

CAVALCANTI, Lana de Souza. A GEOGRAFIA ESCOLAR E A CIDADE: Ensaios sobre o ensino de geografia para a vida urbana cotidiana. São Paulo: Papirus, 2008.

NOGUEIRA, Valdir. EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA E FORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA ESPACIAL-CIDADÃ NO ENSINO: Sujeitos, saberes e práticas. (Tese de Doutorado). Universidade Federal do Paraná: Curitiba, 2009. 369p.

MORIN, Edgar; CIURANA, Emílio-Roger; MOTTA, Raúl Domingo. EDUCAR NA ERA PLANETÁRIA: O pensamento complexo como método de aprendizagem pelo erro e incerteza humana. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2007.



sexta-feira, 10 de agosto de 2012

CURIOSO, ESTRANHO, INCOERENTE... FALTAM FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS?


Fonte: Valdir Nogueira

Uma caminhada pela orla – da praia central à praia do Tabuleiro e logo vejo areia acumulada na calçada, lixo espalhado pelo chão (bitucas de cigarro, copos, garrafas, plásticos, papéis etc.); uma placa quase caindo, anunciando as obras da orla (costão do tabuleiro); sujeira e mais lixo nos canteiros do calçadão e ao longo da beira-mar, junto às gramíneas e faixa de areia. Pergunto: faltam funcionários públicos para cuidar da limpeza da cidade, mais especificamente das praias ou o problema é de outra natureza?
Recordo-me de outros momentos de caminhada onde sempre via funcionários limpando a calçada e mantendo-a zelada, cuidada; sempre em estado agradável para as caminhadas e passeios dos transeuntes. Lembro ainda, de em outros horários, por exemplo, por volta das cinco da manhã, encontrar caminhões e homens fazendo esse serviço de limpeza – varrendo a calçada e tirando o entulho produzido pelos que ainda não aprenderam a cuidar do bem público.
É curioso quando se pensa que a velha idéia engessada e, muitas vezes reproduzida quase que inconscientemente ou intencionalmente, ainda se aplique aos modos de cuidar do que é público. Vou a ela: “O que foi feito pelo outro não é preocupação minha”. Isso é no mínimo curioso e estranho quando se pensa que o zelo, o cuidado, o compromisso e a responsabilidade com o que é de todos, jamais poderia se enquadrar nesse tipo de prática ou de discurso. Não que eu tenha ouvido tal afirmativa, mas isso é o que, infelizmente, muito se ouviu e, por certo inconsciente coletivo, pode se reproduzir inadequadamente.
Gosto de pensar que uma gestão do espaço público qualificada, mostra-se também, pelas formas de gerir a estética do lugar. Mostra-se ainda, de forma contundente, efetiva, zelosa e atuante no cuidado com os detalhes e com as minúcias do que é do povo e para o povo. É admirável quando, numa calçada, numa praça, num monumento, numa fachada etc., fica estampado o modo de administrar e de se comprometer dos governos, nas muitas cidades deste país e, na escala local, de nossa cidade. Não são os grandes eventos que definem a qualidade de uma gestão, mas a preocupação com os detalhes e as singularidades do que ela administra.
Enfim, dá orgulho ver funcionários limpando e cuidando da cidade, pois é na ação que se mostra onde o dinheiro do povo está/foi aplicado/valorizado. Por isso, é incoerente toda prática discursiva e toda ação enquanto prática oriunda do discurso que se mostra vazia de efetivo comprometimento com os espaços públicos e com os bens/recursos alcançados via políticas de contrapartida (Estado/Federação/Município) e aqueles próprios dos bolsos da população (os famosos impostos). Mas, afirmo, não basta uma gestão qualificada da estética dos espaços públicos. É preciso também uma população educada e cuidadosa e que entenda o que significa pertencer ao lugar, o que é habitar com sentimento de pertença numa cidade que é sua, mas também de outros.
A população (visitantes e munícipes) ainda precisa avançar na qualificação das suas formas de interagir com esses espaços – cuidar das calçadas e da limpeza da orla também é responsabilidade de todos. Talvez, não faltem funcionários, o que falta é quebrar com determinadas linhas de raciocínio, de ação, atitude e comportamento.

NOGUEIRA, Valdir.