quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

PILATOS LAVA AS MÃOS


    
   Impressionante o rumo que tomam muitas ações em Barra Velha. Assumir responsabilidades parece ser a atitude mais difícil que existe. Alguém fez; alguém agiu; alguém definiu caminhos, mas quem foi ninguém sabe. Há sempre um outro, um terceiro – um agente. Ou como define a psicanálise, há sempre o grande outro que age. O interessante é que em Barra Velha, esse grande outro não age em sentido de fazer o papel do advogado do diabo, pelo contrário, esse grande outro é aquele que praticou o ato, mas nunca aparece. A cena histórica narrada pelo cristianismo se repete no contexto de nossa cidade: Pilatos lava as mãos. Diante dos fatos, diante das evidências, diante do constatado in lócu, o mais fácil, o mais evidente é lavar as mãos. Não seria melhor dizer: vamos apurar os fatos, vamos ver o que, de fato, aconteceu; vamos abrir uma investigação etc.
            Dar tratamento adequado aos acontecimentos, aos eventos é uma atitude que, no mínimo, define um comportamento que reflete comprometimento, respeito e consideração pelos munícipes e demais sujeitos envolvidos com as ações que não tiveram bom êxito na cidade. A exemplo cita-se o burburinho com o caminhão de fogos que explodiu no último dia do ano de 2010 – desencadeando uma série de conseqüências e que tem resultado em justificativas que exigem, para além delas, atuação cidadã responsável com todos os envolvidos. E essa atuação requer consistência; requer cuidado e seriedade na forma de conduzir o manejo da situação ou ainda, manejo das múltiplas situações advindas dessa ocorrência: houve morte, houve prejuízos, houve contratos, houve acordos, houve negociatas etc. Até de uma bala que se ganha quando criança, uma mãe responsável exige que o filho explique de onde ela veio e quem foi o responsável por tal ação.
            Não basta dizer não somos os culpados, não temos vínculos com o fato, com o ocorrido. Uma vez que determinados eventos se desencadeiam no contexto de nossa cidade ela já não está mais imune; ela já não está fora da rede de reações desencadeada por tais eventos. Uma análise linear e cartesiana das situações leva apenas a respostas dualistas e simplificantes: ganhamos, logo, a culpa não é nossa. Para quem procura tratar o fato, o fenômeno, o evento com mais cuidado e com ética, certamente vai às causalidades, vai à complexidade das ações que apresentam multidimensões que não podem ser desconsideradas. Nesse sentido, somos todos responsáveis. Estamos envolvidos de uma forma ou de outra. No entanto, há uma força político-jurídica que pode apurar fatos e dar tratamentos adequados ao que ocorre no contexto de Barra Velha. A História nos ensina que temos que olhar para o passado para aprender com ele e isso não significa ficar condenando o passado como o culpado. Que ele nos ajude a fazer, no presente, o que não se deu conta no passado e ainda, o que pode mudar o amanhã. O presente é determinante para fazer com que Barra Velha não vá para o calvário. 

2 comentários:

  1. Já estou seguindo o Blog Valdir!
    Ainda não tive o tempo de ler os textos na íntegra. As aulas começam e o tempo livre termina. Mas assim que tiver uma folguinha dou uma passada aqui.
    Assim por cima, já gostei da ideia e da iniciativa.

    Abraços!

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  2. Valeu Gui! Esta é uma iniciativa em sentido de discutir o espaço de vida comum:a cidade. Todos são bem-vindos e podem contribuir com seus pensamentos e suas ideias. Obrigado por estar aqui e nos apoiar nessa empreitada reflexiva e propositiva. Abraços,
    Valdir

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