Fonte: Valdir Nogueira
Uma
caminhada pela orla – da praia central à praia do Tabuleiro e logo vejo areia
acumulada na calçada, lixo espalhado pelo chão (bitucas de cigarro, copos, garrafas,
plásticos, papéis etc.); uma placa quase caindo, anunciando as obras da orla (costão
do tabuleiro); sujeira e mais lixo nos canteiros do calçadão e ao longo da
beira-mar, junto às gramíneas e faixa de areia. Pergunto: faltam funcionários públicos
para cuidar da limpeza da cidade, mais especificamente das praias ou o problema
é de outra natureza?
Recordo-me
de outros momentos de caminhada onde sempre via funcionários limpando a calçada
e mantendo-a zelada, cuidada; sempre em estado agradável para as caminhadas e
passeios dos transeuntes. Lembro ainda, de em outros horários, por exemplo, por
volta das cinco da manhã, encontrar caminhões e homens fazendo esse serviço de
limpeza – varrendo a calçada e tirando o entulho produzido pelos que ainda não
aprenderam a cuidar do bem público.
É
curioso quando se pensa que a velha idéia engessada e, muitas vezes reproduzida
quase que inconscientemente ou intencionalmente, ainda se aplique aos modos de
cuidar do que é público. Vou a ela: “O que foi feito pelo outro não é
preocupação minha”. Isso é no mínimo curioso e estranho quando se pensa que o
zelo, o cuidado, o compromisso e a responsabilidade com o que é de todos,
jamais poderia se enquadrar nesse tipo de prática ou de discurso. Não que eu
tenha ouvido tal afirmativa, mas isso é o que, infelizmente, muito se ouviu e,
por certo inconsciente coletivo, pode se reproduzir inadequadamente.
Gosto
de pensar que uma gestão do espaço público qualificada, mostra-se também, pelas
formas de gerir a estética do lugar. Mostra-se ainda, de forma contundente, efetiva,
zelosa e atuante no cuidado com os detalhes e com as minúcias do que é do povo
e para o povo. É admirável quando, numa calçada, numa praça, num monumento,
numa fachada etc., fica estampado o modo de administrar e de se comprometer dos
governos, nas muitas cidades deste país e, na escala local, de nossa cidade. Não
são os grandes eventos que definem a qualidade de uma gestão, mas a preocupação
com os detalhes e as singularidades do que ela administra.
Enfim,
dá orgulho ver funcionários limpando e cuidando da cidade, pois é na ação que
se mostra onde o dinheiro do povo está/foi aplicado/valorizado. Por isso, é
incoerente toda prática discursiva e toda ação enquanto prática oriunda do
discurso que se mostra vazia de efetivo comprometimento com os espaços públicos
e com os bens/recursos alcançados via políticas de contrapartida
(Estado/Federação/Município) e aqueles próprios dos bolsos da população (os
famosos impostos). Mas, afirmo, não basta uma gestão qualificada da estética dos
espaços públicos. É preciso também uma população educada e cuidadosa e que
entenda o que significa pertencer ao lugar, o que é habitar com sentimento de
pertença numa cidade que é sua, mas também de outros.
A população
(visitantes e munícipes) ainda precisa avançar na qualificação das suas formas
de interagir com esses espaços – cuidar das calçadas e da limpeza da orla
também é responsabilidade de todos. Talvez, não faltem funcionários, o que
falta é quebrar com determinadas linhas de raciocínio, de ação, atitude e comportamento.
NOGUEIRA,
Valdir.

Valdir, o que você relata, dá uma sensação de abandono do lugar, da cidade...nos deixando desgostosos...O cuidado, a limpeza de uma cidade é espelho de uma gestão governamental preocupada com o lugar; mas, como você escreve, o cuidado ou não de uma cidade, é também expressão da educação, da cultura cidadã de um povo, de uma comunidade. É preciso que todos valorizarem o patrimônio da sua cidade, para viver bem nela. Portanto, é fundamental a presença do funcionário na manutenção da cidade, mas também é importante um povo educado para manter e exigir da administração pública um ambiente saudável, agradável, prazeroso e, nesse sentido, qualificado.
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