sexta-feira, 10 de agosto de 2012

CURIOSO, ESTRANHO, INCOERENTE... FALTAM FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS?


Fonte: Valdir Nogueira

Uma caminhada pela orla – da praia central à praia do Tabuleiro e logo vejo areia acumulada na calçada, lixo espalhado pelo chão (bitucas de cigarro, copos, garrafas, plásticos, papéis etc.); uma placa quase caindo, anunciando as obras da orla (costão do tabuleiro); sujeira e mais lixo nos canteiros do calçadão e ao longo da beira-mar, junto às gramíneas e faixa de areia. Pergunto: faltam funcionários públicos para cuidar da limpeza da cidade, mais especificamente das praias ou o problema é de outra natureza?
Recordo-me de outros momentos de caminhada onde sempre via funcionários limpando a calçada e mantendo-a zelada, cuidada; sempre em estado agradável para as caminhadas e passeios dos transeuntes. Lembro ainda, de em outros horários, por exemplo, por volta das cinco da manhã, encontrar caminhões e homens fazendo esse serviço de limpeza – varrendo a calçada e tirando o entulho produzido pelos que ainda não aprenderam a cuidar do bem público.
É curioso quando se pensa que a velha idéia engessada e, muitas vezes reproduzida quase que inconscientemente ou intencionalmente, ainda se aplique aos modos de cuidar do que é público. Vou a ela: “O que foi feito pelo outro não é preocupação minha”. Isso é no mínimo curioso e estranho quando se pensa que o zelo, o cuidado, o compromisso e a responsabilidade com o que é de todos, jamais poderia se enquadrar nesse tipo de prática ou de discurso. Não que eu tenha ouvido tal afirmativa, mas isso é o que, infelizmente, muito se ouviu e, por certo inconsciente coletivo, pode se reproduzir inadequadamente.
Gosto de pensar que uma gestão do espaço público qualificada, mostra-se também, pelas formas de gerir a estética do lugar. Mostra-se ainda, de forma contundente, efetiva, zelosa e atuante no cuidado com os detalhes e com as minúcias do que é do povo e para o povo. É admirável quando, numa calçada, numa praça, num monumento, numa fachada etc., fica estampado o modo de administrar e de se comprometer dos governos, nas muitas cidades deste país e, na escala local, de nossa cidade. Não são os grandes eventos que definem a qualidade de uma gestão, mas a preocupação com os detalhes e as singularidades do que ela administra.
Enfim, dá orgulho ver funcionários limpando e cuidando da cidade, pois é na ação que se mostra onde o dinheiro do povo está/foi aplicado/valorizado. Por isso, é incoerente toda prática discursiva e toda ação enquanto prática oriunda do discurso que se mostra vazia de efetivo comprometimento com os espaços públicos e com os bens/recursos alcançados via políticas de contrapartida (Estado/Federação/Município) e aqueles próprios dos bolsos da população (os famosos impostos). Mas, afirmo, não basta uma gestão qualificada da estética dos espaços públicos. É preciso também uma população educada e cuidadosa e que entenda o que significa pertencer ao lugar, o que é habitar com sentimento de pertença numa cidade que é sua, mas também de outros.
A população (visitantes e munícipes) ainda precisa avançar na qualificação das suas formas de interagir com esses espaços – cuidar das calçadas e da limpeza da orla também é responsabilidade de todos. Talvez, não faltem funcionários, o que falta é quebrar com determinadas linhas de raciocínio, de ação, atitude e comportamento.

NOGUEIRA, Valdir.


Um comentário:

  1. Valdir, o que você relata, dá uma sensação de abandono do lugar, da cidade...nos deixando desgostosos...O cuidado, a limpeza de uma cidade é espelho de uma gestão governamental preocupada com o lugar; mas, como você escreve, o cuidado ou não de uma cidade, é também expressão da educação, da cultura cidadã de um povo, de uma comunidade. É preciso que todos valorizarem o patrimônio da sua cidade, para viver bem nela. Portanto, é fundamental a presença do funcionário na manutenção da cidade, mas também é importante um povo educado para manter e exigir da administração pública um ambiente saudável, agradável, prazeroso e, nesse sentido, qualificado.

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