domingo, 14 de outubro de 2012

O forjamento do Educador/Educadora.


 
Quinze de outubro é o dia do Professor. Por isso, faço uso deste espaço que criei para discutir os espaços-tempos comuns de vida da minha/nossa cidade, para parabenizar aos colegas Educadores/Educadoras e aqueles/aquelas em formação, pelo nosso dia partilhando um pouco da minha história.

 

Aos mestres, com carinho!

O forjamento do Educador/Educadora.

 
            Acredito que um educador se forja ao longo do fazer histórico e por meio dos caminhos que segue percorrendo. Não nasce pronto e acabado. Não é a graduação, nem a pós-graduação que o define e o faz concluso senão as muitas perguntas que ele mesmo coloca para si ao vivenciar tais processos formativos e ao experienciar os desafios da atuação profissional.

            Um educador forjado na inquietação produzida pela prática socioeducativa e pelo mergulho que faz nas muitas realidades vividas por ele e pelos demais sujeitos dos processos educativos, jamais se dá por pronto. Ele segue a vida desafiando-se a ver-se no não visto, a encontrar-se no não encontrado, pertencer ao não pertencido. Faz dos não-lugares, um lugar para si e para os outros que compartilham consigo as perspectivas de projetos-mundos e os caminhos da esperança.

            Minha forja socioeducativa começa quando entro na escola do Cotovelo, em 1978, na cidade de Barra Velha, hoje Escola David Pedro Espíndola. De lá até os dias atuais, percorri alguns caminhos de lutas e de possibilidades. Tive que ver no impossível o possível, acreditar no inacreditável! Quando cursava o ensino médio, sonhava com a faculdade, mas minha realidade de vida parecia dizer o contrário, como ouvi de um dos patrões da minha mãe (cozinheira de mão cheia) quando passei no vestibular para Geografia: “Filho de pobre entra, mas não conclui a faculdade”.

            Sou grato a minha mãe que fez o empréstimo antecipado de seu salário para pagar a matrícula da graduação iniciada no ano de 1993, na Univali – Itajaí/SC. Honrei minha família e o esforço de todos que me ajudaram na linda empreitada da formação acadêmica – pais, avós, tios, amigos. O ‘filho de pobre’ não só saiu da faculdade formado; fez Especialização, Mestrado, Doutorado, viajou para outros países e hoje sonha em fazer seu pós-doutorado. Um sonho-possibilidade que logo se concretizará. Um educador se forja não apenas pelo brilho teórico-metodológico ou pela competência acadêmica e prática que lhe define, mas também e, principalmente, pelos sonhos que alimenta, pelas possibilidades que enxerga, pelas esperanças que nutre, pela partilha que faz dos seus anseios de mundo, de sociedade, de vida.

            No mesmo ano, 1993, após engajamento na Pastoral da Juventude onde atuei por 18 anos, recebi convite para trabalhar em uma escola como professor de Educação Física para crianças da Pré-Escola. A Coordenadora dos grupos de catequese via em mim um potencial para trabalhar com crianças, pois à época eu trabalhava também com a catequese. Foi um lindo convite e um maravilhoso desafio! Eu não sabia ser professor, eu não tinha formação para ser educador a não ser as experiências vivenciadas por mim como aluno que carregava e carrego comigo até hoje, especialmente as experiências marcantes com os professores que potencializaram minha vida e meu viver.

            Um professor forjado na realidade de vida sua e de seus alunos é um encorajador de mentes e corações. Ele empodera o Ser dos sujeitos-alunos, amplia seus horizontes, desmistifica a realidade e os fatalismos, encorajando-os a ver além do aparentemente visto. A saírem de si mesmos e a apreenderem, quando retornam a si mesmos, fazerem-se mais com a realidade que é construída por eles e que está neles. Ele os revigora e os faz, criativamente, tornar a vida absurdamente possível.

            Ano que vem - 2013 completarei 20 anos de magistério. Destes, 10 anos em escolas públicas e os demais 10 anos divididos entre escola particular e universidades. Dez anos de trabalho no Magistério Superior, contribuindo com a formação de Pedagogos e professores nos diferentes níveis. Nesse tempo de escola pública, não me dei por vencido, nem me adaptei aos desmandos e aos ferrolhos da opressão e da minimização do Ser e do fazer (práticas) docentes. Ouvi muitos ditos: “Não venha pra cá com tuas teorias e teus discursos”; “Desista, agora tu começas com muita empolgação, mas depois tudo passa”; “Não adianta, esses alunos não tem condições” entre outros ditos e não ditos – olhares, gestos, atitudes e ações que falavam muito, eram coercitivos e degenerativos.

            Quando terminei o Mestrado, fui mandado para uma biblioteca de escola, era o lugar que me cabia, como diziam alguns, eu já estava falando demais. Não desisti dos alunos, não silenciei, não calei, continuei com minhas teorias e meus discursos, não me dei por cansado e não deixei morrer minha empolgação, não me curvei diante do falso poder e da opressão que escravizava/escraviza e faz sofrer muitos professores neste país. Em mim falavam mais alto meus sonhos e minha ousada determinação em querer mais, em ir mais longe, em ver de outras formas, em buscar perspectivas que me ajudassem a entender tudo o que me acontecia e também o que nos acontecia nos muitos espaços-tempos do aprender.

            Um professor forjado na efervescência do fazer socioeducativo precisa, não de vez enquanto, ma sempre, insistir, persistir, resistir, acreditar, revolucionar. A maior força, a mais poderosa energia capaz de mover mundos, de desinstalar sistemas, de provocar mudanças e transformações está dentro dele, está com ele, está nele: sua capacidade ilimitada de acreditar que a vida, ainda que frágil, é a mais poderosa possibilidade no mundo. Eu ainda não sabia disso, meus estudos, minhas teorias, minhas buscas, minhas inquietações, meus desencontros e encontros com tantos outros ajudaram a chegar nesta fantástica descoberta.

            O que move meu universo de educador é essa arrebatadora vontade de defender a vida em todas as suas dimensões. Impossível não acreditar nisso quando olhava para os olhos de um aluninho e via para além daquele olhar o seu desejo de ser mais, de fazer-se mais, de transcender sua realidade; impossível não acreditar naqueles e naquelas que me escreviam bilhetinhos de agradecimento porque eu os procurava entender; impossível não acreditar na beleza do encontro com os muitos colegas que me ajudavam a fazer um planejamento, a encontrar os caminhos mais favoráveis a uma prática educativa libertadora; impossível não acreditar no valioso respeito compartilhado entre os pares – professoras e professores que ao invés de me deixar de fora, me colocavam para dentro – dentro das trocas solidárias de saberes, dentro das rodas de conversa e de partilha da vida, sofrida em muitos momentos, mas dignificada pelo carinho, pela acolhida, pela ternura emergida nos intervalos, nos recreios, nas reuniões.

            Foram muitos os colegas que me ajudaram a construir pontes, derrubar muros, atravessar altas marés, criar caminhos; foram as gentes da educação que me deram apoio e me permitiram continuar fazendo minha história. Por isso, um educador forjado na solidariedade, no compartilhamento altruísta, na respeitosa convivência, na co-responsabilidade, na escuta atenta e no olhar curioso jamais pode se dar por acabado, jamais pode se dar por concluso. Um educador forjado nesse território fértil de embates e de valores segue fazendo sua história acreditando que a vida ainda não revelou, não descortinou tudo o que ela precisa desvelar/descortinar; segue acreditando que é preciso confiança na capacidade humana de amar e de libertar; segue acreditando que os sentidos são construídos desde que se possibilite a si mesmo e aos outros o exercício da extraordinária capacidade de sonhar os sonhos possíveis.

            Meu sonho, talvez seja do tamanho do mundo, mas acredito que seja possível de realização. Meu sonho é que a VIDA e tudo o que há nela, seja, estupendamente VALORIZADA, RESPEITADA, CUIDADA, EMPODERADA! Sonho com a qualificação do viver das gentes desde as favelas, morros, becos até os grandes centros. Sonho mesmo é com os sonhos das crianças que ainda passarão pelas escolas. É com este ato sonhado e que acredito possível que parabenizo a todos nós, Educadores e Educadoras deste país e, em específico, desta terra (Barra Velha) que me ajudou a tornar-me o professor que sou. Parabéns para nós!

 
Lembro aqui e agradeço os espaços de atuação profissional:

 
Escola Antonia Gasino de Freitas, onde comecei minha experiência docente, em 1993; Escola Manoel Antonio de Freitas, onde continuei minhas incursões pelo fazer docente (1998) e onde aprendi que a Educação é uma prática política, como afirma Freire; a Escola Astrogildo Odon Aguiar, onde estudei desde a 5ª Série ao Ensino Médio e onde, por pouco tempo (2001), atuei como professor do Ensino Médio; Escola David Pedro Espíndola, onde sem saber, iniciei minha caminhada de aluno-sujeito (1978) e onde por pouco tempo trabalhei como substituto (1999), no ensino religioso - lá também desenvolvi minha pesquisa de doutorado; à Educação de Jovens e Adultos, à época CEJAM onde atuei como professor e Coordenador e muito aprendi com a Educação de Jovens e Adultos; à APAE de Barra Velha, onde juntos construímos o PPP e com os parceiros de diálogos muito aprendi sobre o valor das diferenças e dos diferentes; ao Centro Educacional Canguru, onde atuei como professor dos Anos Finais e por um tempo como Assessor Pedagógico; ao Centro Universitário de Jaraguá do Sul – UNERJ, hoje PUC, onde iniciei meus caminhos na atuação no ensino superior, em Barra Velha e posteriormente, em Jaraguá do Sul; ao SENSUPEG onde trabalhei nos cursos de Especialização; à UNIASSELVI, onde atuei como professor na formação dos Pedagogos, em Barra Velha; aos muitos lugares e recantos dos Estados do Sul e deste país onde proferi palestras e falei das minhas teorias ideias seja assessorando na construção dos PPPs e matrizes curriculares, ou apenas falando e partilhando inquietações comuns e pontos de vistas e perspectivas outras de mundo e de educação; à Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, onde me encontro trabalhando na formação de professores - Pedagogos-Pedagogas; às escolas já citadas no município de Barra Velha e à Escola de São João do Itaperiú – Elvira Faria Passos, onde desenvolvi os estudos do mestrado e da tese de doutorado; enfim a todos aqueles e aquelas que estão em mim e fazem parte do profissional que tenho me permitido ser, meu mais sincero obrigado e que possamos seguir, fazendo história e, com isso, Ser neste mundo, a diferença.
 
NOGUEIRA, Valdir.

Um comentário:

  1. O seu depoimento e mensagem instigam os educadores a repensar sua missão-vida e sobre ela refletir, enquanto pessoas referenciais na formação de educandos esclarecidos, éticos e atuantes, na busca transformativa de um mundo mais humanizado, justo e solidário. Parabéns Valdir, pelo educador iluminado e amoroso que você é...Vejo em sua maneira de atuar profissionalmente o que Paulo Freire nos diz:" Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso, eu amo as gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo, que eu brigo para que a justiça social se implante [...]."

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