Quinze
de outubro é o dia do Professor. Por isso, faço uso deste espaço que criei para
discutir os espaços-tempos comuns de vida da minha/nossa cidade, para
parabenizar aos colegas Educadores/Educadoras e aqueles/aquelas em formação,
pelo nosso dia partilhando um pouco da minha história.
Aos mestres, com
carinho!
O forjamento do
Educador/Educadora.
Acredito que um educador se forja ao
longo do fazer histórico e por meio dos caminhos que segue percorrendo. Não
nasce pronto e acabado. Não é a graduação, nem a pós-graduação que o define e o
faz concluso senão as muitas perguntas que ele mesmo coloca para si ao
vivenciar tais processos formativos e ao experienciar os desafios da atuação
profissional.
Um educador forjado na inquietação
produzida pela prática socioeducativa e pelo mergulho que faz nas muitas
realidades vividas por ele e pelos demais sujeitos dos processos educativos,
jamais se dá por pronto. Ele segue a vida desafiando-se a ver-se no não visto,
a encontrar-se no não encontrado, pertencer ao não pertencido. Faz dos
não-lugares, um lugar para si e para os outros que compartilham consigo as
perspectivas de projetos-mundos e os caminhos da esperança.
Minha forja socioeducativa começa
quando entro na escola do Cotovelo, em 1978, na cidade de Barra Velha, hoje
Escola David Pedro Espíndola. De lá até os dias atuais, percorri alguns caminhos
de lutas e de possibilidades. Tive que ver no impossível o possível, acreditar
no inacreditável! Quando cursava o ensino médio, sonhava com a faculdade, mas minha
realidade de vida parecia dizer o contrário, como ouvi de um dos patrões da
minha mãe (cozinheira de mão cheia) quando passei no vestibular para Geografia:
“Filho de pobre entra, mas não conclui a
faculdade”.
Sou grato a minha mãe que fez o
empréstimo antecipado de seu salário para pagar a matrícula da graduação
iniciada no ano de 1993, na Univali – Itajaí/SC. Honrei minha família e o
esforço de todos que me ajudaram na linda empreitada da formação acadêmica –
pais, avós, tios, amigos. O ‘filho de pobre’
não só saiu da faculdade formado; fez Especialização, Mestrado, Doutorado,
viajou para outros países e hoje sonha em fazer seu pós-doutorado. Um
sonho-possibilidade que logo se concretizará. Um educador se forja não apenas
pelo brilho teórico-metodológico ou pela competência acadêmica e prática que
lhe define, mas também e, principalmente, pelos sonhos que alimenta, pelas
possibilidades que enxerga, pelas esperanças que nutre, pela partilha que faz
dos seus anseios de mundo, de sociedade, de vida.
No mesmo ano, 1993, após engajamento
na Pastoral da Juventude onde atuei por 18 anos, recebi convite para trabalhar
em uma escola como professor de Educação Física para crianças da Pré-Escola. A
Coordenadora dos grupos de catequese via em mim um potencial para trabalhar com
crianças, pois à época eu trabalhava também com a catequese. Foi um lindo
convite e um maravilhoso desafio! Eu não sabia ser professor, eu não tinha
formação para ser educador a não ser as experiências vivenciadas por mim como
aluno que carregava e carrego comigo até hoje, especialmente as experiências
marcantes com os professores que potencializaram minha vida e meu viver.
Um professor forjado na realidade de
vida sua e de seus alunos é um encorajador de mentes e corações. Ele empodera o
Ser dos sujeitos-alunos, amplia seus horizontes, desmistifica a realidade e os
fatalismos, encorajando-os a ver além do aparentemente visto. A saírem de si
mesmos e a apreenderem, quando retornam a si mesmos, fazerem-se mais com a
realidade que é construída por eles e que está neles. Ele os revigora e os faz,
criativamente, tornar a vida absurdamente possível.
Ano que vem - 2013 completarei 20
anos de magistério. Destes, 10 anos em escolas públicas e os demais 10 anos
divididos entre escola particular e universidades. Dez anos de trabalho no Magistério
Superior, contribuindo com a formação de Pedagogos e professores nos diferentes
níveis. Nesse tempo de escola pública, não me dei por vencido, nem me adaptei
aos desmandos e aos ferrolhos da opressão e da minimização do Ser e do fazer
(práticas) docentes. Ouvi muitos ditos: “Não
venha pra cá com tuas teorias e teus discursos”; “Desista, agora tu começas com muita empolgação, mas depois tudo passa”;
“Não adianta, esses alunos não tem
condições” entre outros ditos e não ditos – olhares, gestos, atitudes e
ações que falavam muito, eram coercitivos e degenerativos.
Quando terminei o Mestrado, fui
mandado para uma biblioteca de escola, era o lugar que me cabia, como diziam
alguns, eu já estava falando demais. Não desisti dos alunos, não silenciei, não
calei, continuei com minhas teorias e meus discursos, não me dei por cansado e
não deixei morrer minha empolgação, não me curvei diante do falso poder e da
opressão que escravizava/escraviza e faz sofrer muitos professores neste país.
Em mim falavam mais alto meus sonhos e minha ousada determinação em querer
mais, em ir mais longe, em ver de outras formas, em buscar perspectivas que me
ajudassem a entender tudo o que me acontecia e também o que nos acontecia nos muitos
espaços-tempos do aprender.
Um professor forjado na
efervescência do fazer socioeducativo precisa, não de vez enquanto, ma sempre,
insistir, persistir, resistir, acreditar, revolucionar. A maior força, a mais
poderosa energia capaz de mover mundos, de desinstalar sistemas, de provocar
mudanças e transformações está dentro dele, está com ele, está nele: sua
capacidade ilimitada de acreditar que a vida, ainda que frágil, é a mais
poderosa possibilidade no mundo. Eu ainda não sabia disso, meus estudos, minhas
teorias, minhas buscas, minhas inquietações, meus desencontros e encontros com
tantos outros ajudaram a chegar nesta fantástica descoberta.
O que move meu universo de educador
é essa arrebatadora vontade de defender a vida em todas as suas dimensões. Impossível
não acreditar nisso quando olhava para os olhos de um aluninho e via para além
daquele olhar o seu desejo de ser mais, de fazer-se mais, de transcender sua
realidade; impossível não acreditar naqueles e naquelas que me escreviam
bilhetinhos de agradecimento porque eu os procurava entender; impossível não
acreditar na beleza do encontro com os muitos colegas que me ajudavam a fazer
um planejamento, a encontrar os caminhos mais favoráveis a uma prática
educativa libertadora; impossível não acreditar no valioso respeito
compartilhado entre os pares – professoras e professores que ao invés de me
deixar de fora, me colocavam para dentro – dentro das trocas solidárias de
saberes, dentro das rodas de conversa e de partilha da vida, sofrida em muitos
momentos, mas dignificada pelo carinho, pela acolhida, pela ternura emergida
nos intervalos, nos recreios, nas reuniões.
Foram muitos os colegas que me
ajudaram a construir pontes, derrubar muros, atravessar altas marés, criar
caminhos; foram as gentes da educação que me deram apoio e me permitiram
continuar fazendo minha história. Por isso, um educador forjado na
solidariedade, no compartilhamento altruísta, na respeitosa convivência, na
co-responsabilidade, na escuta atenta e no olhar curioso jamais pode se dar por
acabado, jamais pode se dar por concluso. Um educador forjado nesse território
fértil de embates e de valores segue fazendo sua história acreditando que a
vida ainda não revelou, não descortinou tudo o que ela precisa
desvelar/descortinar; segue acreditando que é preciso confiança na capacidade
humana de amar e de libertar; segue acreditando que os sentidos são construídos
desde que se possibilite a si mesmo e aos outros o exercício da extraordinária
capacidade de sonhar os sonhos possíveis.
Meu sonho, talvez seja do tamanho do
mundo, mas acredito que seja possível de realização. Meu sonho é que a VIDA e
tudo o que há nela, seja, estupendamente VALORIZADA, RESPEITADA, CUIDADA,
EMPODERADA! Sonho com a qualificação do viver das gentes desde as favelas,
morros, becos até os grandes centros. Sonho mesmo é com os sonhos das crianças
que ainda passarão pelas escolas. É com este ato sonhado e que acredito
possível que parabenizo a todos nós, Educadores e Educadoras deste país e, em
específico, desta terra (Barra Velha) que me ajudou a tornar-me o professor que
sou. Parabéns para nós!
Lembro
aqui e agradeço os espaços de atuação profissional:
Escola
Antonia Gasino de Freitas, onde comecei minha experiência docente, em 1993;
Escola Manoel Antonio de Freitas, onde continuei minhas incursões pelo fazer
docente (1998) e onde aprendi que a Educação é uma prática política, como
afirma Freire; a Escola Astrogildo Odon Aguiar, onde estudei desde a 5ª Série
ao Ensino Médio e onde, por pouco tempo (2001), atuei como professor do Ensino
Médio; Escola David Pedro Espíndola, onde sem saber, iniciei minha caminhada de
aluno-sujeito (1978) e onde por pouco tempo trabalhei como substituto (1999),
no ensino religioso - lá também desenvolvi minha pesquisa de doutorado; à
Educação de Jovens e Adultos, à época CEJAM onde atuei como professor e
Coordenador e muito aprendi com a Educação de Jovens e Adultos; à APAE de Barra
Velha, onde juntos construímos o PPP e com os parceiros de diálogos muito
aprendi sobre o valor das diferenças e dos diferentes; ao Centro Educacional
Canguru, onde atuei como professor dos Anos Finais e por um tempo como Assessor
Pedagógico; ao Centro Universitário de Jaraguá do Sul – UNERJ, hoje PUC, onde
iniciei meus caminhos na atuação no ensino superior, em Barra Velha e
posteriormente, em Jaraguá do Sul; ao SENSUPEG onde trabalhei nos cursos de
Especialização; à UNIASSELVI, onde atuei como professor na formação dos
Pedagogos, em Barra Velha ;
aos muitos lugares e recantos dos Estados do Sul e deste país onde proferi
palestras e falei das minhas teorias ideias seja assessorando na construção dos
PPPs e matrizes curriculares, ou apenas falando e partilhando inquietações
comuns e pontos de vistas e perspectivas outras de mundo e de educação; à
Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, onde me encontro trabalhando na
formação de professores - Pedagogos-Pedagogas; às escolas já citadas no
município de Barra Velha e à Escola de São João do Itaperiú – Elvira Faria
Passos, onde desenvolvi os estudos do mestrado e da tese de doutorado; enfim a
todos aqueles e aquelas que estão em mim e fazem parte do profissional que
tenho me permitido ser, meu mais sincero obrigado e que possamos seguir,
fazendo história e, com isso, Ser neste mundo, a diferença.
NOGUEIRA, Valdir.
O seu depoimento e mensagem instigam os educadores a repensar sua missão-vida e sobre ela refletir, enquanto pessoas referenciais na formação de educandos esclarecidos, éticos e atuantes, na busca transformativa de um mundo mais humanizado, justo e solidário. Parabéns Valdir, pelo educador iluminado e amoroso que você é...Vejo em sua maneira de atuar profissionalmente o que Paulo Freire nos diz:" Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso, eu amo as gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo, que eu brigo para que a justiça social se implante [...]."
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