“Valdir, diante da fragilidade e vulnerabilidade de nosso Planeta é, de fato, urgente uma outra ética - uma ética de responsabilidade de todos sujeitos-cidadãos nas relações entre si e com a natureza; pois, só dessa maneira teremos condições de possibilitar a vida, com qualidade, às gerações futuras. Valem as palavras de Hans Jonas (2006): “Aja de modo a que os efeitos da tua ação sejam compatíveis com a permanência de uma autêntica vida humana sobre a Terra” [...] “ Aja de modo a que os efeitos da tua ação não sejam destrutivos para a possibilidade futura de uma tal vida” [...]; “ Não ponha em perigo as condições necessárias para a conservação indefinida da humanidade sobre a Terra”; “[...] Inclua na tua escolha presente a futura integridade do homem como um dos objetos do teu querer.””
Amiga Sônia,
Agradeço a contribuição para seguir pensando Barra Velha como nosso lugar comum, como nossa comunidade de destino - usando uma expressão de Morin (2000). Hans Jonas nos ajuda a pensar nessa ética da responsabilidade e, a mais, nos ajuda a entender o que significa nos comprometermos com tal perspectiva de vida. A expressão que citei anteriormente, de Morin, nos faz pensar sobre o valor da comunidade, o sentido e o significado que estão interrelacionados à importância de saber pertencer, tal como discuti com a amiga Geozani, em outro momento. O que percebo é que falta entender, em profundidade o significado do que seja uma “autêntica vida humana”, o que compreende uma “possibilidade futura” de vida, desde o momento presente, incluindo nesse aspecto, a responsabilidade da “escolha presente” e, com isso, atentar para o risco do “perigo” que se corre caso as ações e atitudes se tornem práticas irresponsáveis, levianas e desajustadas.
O presente é fundamental para tomarmos decisões que nos ajudarão a fortalecer lógicas sustentáveis de vida comunitária. O que me impressiona é que, de modo geral, muitos gestores, técnicos ou políticos parece não perceber ou não querem perceber o grau de responsabilidade das suas ações no presente; não compreendem ou não querem compreender a importância dos atos que praticam ou dos conchavos que fazem, tornando-os atos relativizados, banais. Não é preciso muito esforço para entender que a minha ação não provoca reações e reflexos apenas em minha vida, em minha história. Ela pode envolver outros contextos, outros espaços, outros lugares.
Uma ação é carregada de uma multiplicidade de interferências, de reflexos. As pessoas ainda pensam isoladas, agem isoladas e o que é pior, numa lógica individualista, mercantil e pensando apenas em seus interesses pessoais. Enquanto se caminha nessa direção, certamente corremos sérios riscos, tiramos a autenticidade do viver, do estar e do pertencer, negamos possibilidades de futuro e, com isso, potencializamos a possibilidade do perigo.
Barra Velha, enquanto unidade, enquanto lugar-comunidade singular poderia e deveria ser exemplo de administração/gestão pelos governantes e pelos seus munícipes. Uma gestão participativa, democrática e colocada numa perspectiva da cidadania comunitária. As redes sociais, culturais locais deveriam ser fortalecidas. Poderia haver um chamamento à participação, ao envolvimento comprometido, enfim, engajamento. Isto porque, somos todos responsáveis por essa cidade e pelos reflexos dela em outras instâncias, outros contextos, outras localidades. Não estamos isolados. Não vivemos em uma ilha. Como seria bom se a cidade fosse modelo de governança socioambiental! Como seria maravilhoso se nossa cidade fosse procurada como exemplo de comunidade de destino – sentido de que ela pode apontar modelos e formas de se fazer gestão, qualificando a vida no presente e para o futuro. Para isso ser possível, seria bom pensarmos um pouco o que está presente nos princípios da Carta da Terra, como segue no primeiro princípio:
- RESPEITAR E CUIDAR DA COMUNIDADE DE VIDA
1. Respeitar a Terra e a vida em toda sua diversidade.
a) Reconhecer que todos os seres estão interligados e cada forma de vida tem valor, independentemente do uso humano.
b) Afirmar a fé na dignidade inerente de todos os seres humanos e no potencial intelectual, artístico, ético e espiritual da humanidade.
2. Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão e amor.
a) Aceitar que com o direito de possuir, administrar e usar os recursos naturais vem o dever de impedir o dano causado ao meio ambiente e de proteger o direito das pessoas.
b) Afirmar que o aumento da liberdade, dos conhecimentos e do poder comporta responsabilidade na promoção do bem comum.
3. Construir sociedades democráticas que sejam justas, participativas, sustentáveis e pacíficas.
a) Assegurar que as comunidades em todos os níveis garantam os direitos humanos e as liberdades fundamentais e dar a cada um a oportunidade de realizar seu pleno potencial.
b) Promover a justiça econômica propiciando a todos a consecução de uma subsistência significativa e segura, que seja ecologicamente responsável.
4. Garantir a generosidade e a beleza da Terra para as atuais e as futuras gerações.
a) Reconhecer que a liberdade de ação de cada geração está condicionada pelas necessidades das gerações futuras.
b) Transmitir às futuras gerações valores, tradições e instituições que dêem apoio, a longo tempo, à prosperidade das comunidades humanas e ecológicas da Terra.
A carta segue com outros princípios profundos e que servem de orientadores para uma gestão/administração do lugar de forma equilibrada, consciente e prudente. Como tenho ouvido nos eventos de Educação Integral que tenho participado no MEC, “É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança” (Provérbio Africano). Talvez, precisamos compreender Barra Velha, enquanto nosso lugar comum, nessa perspectiva de aldeia, de comunidade e, a partir desse entendimento, dessa compreensão profunda, assumir as responsabilidades que temos uns para com os outros. Por enquanto, no jogo estabelecido entre os díspares e não entre os pares da política barravelhense, o que se pode fazer é dar cartão vermelho. Que o presente nos ajude e chegar, quem sabe um dia, ao cartão verde. O perigo é que estão caminhando na direção da “zona azul”. A lógica bem sabemos qual é.

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