O texto a seguir é uma contribuição que fortalece este espaço de trocas e, a mais, que nos ajuda a entender o sentido do que seja a participação e o envolvimento na luta por vida digna e de qualidade. Amiga Geozani, sou imensamente grato pela troca e pela co-pertença.
Amigo Valdir,
Considero de fundamental importância contribuir neste grande desafio de pensar Barra Velha pelo fato de considerar o valor da minha cidadania. Atualmente, não moro em Barra Velha , mas meu título de eleitor continua vigente nesta comunidade. Não consigo pensar e sugerir soluções para as mazelas nesta relação de pertença ao local, sem pontuar o agravante que os cidadãos enfrentam. A politicagem vergonhosa e explícita é vivenciada em todas as instancias.
De acordo com o poder vigente, a oposição sofre fortes represálias, o que cala a voz desse grupo. Poderíamos chamá-los de covardes, no entanto, vivenciei pessoalmente as ameaças ao exercer minha profissão como sujeito/pessoa concursada no município. Mal tinha assumido minha lotação, deparei-me com uma função a mais, a qual não escolhi e sequer participei de qualquer processo para o provimento de membros de um dos conselhos que compõe o espaço escolar. Percebi que não havia convocação para reuniões decisórias, principalmente de licitações, mas havia o chamado para conferir ou verificar os mantimentos chegados com um caminhão em escolas. Para meu espanto, as frutas e verduras estavam murchas e/ou podres. Alguns itens com a data de validade vencidas e itens faltando e/ou em quantidades insuficientes. Preparei um relatório e fui entregar a quem estava apto a assumir as responsabilidades enquanto gestor da educação. Para minha surpresa, já ia ser convocada, mas não para discutir meu relatório e sim para assinar uma série de documentos e notas de compra que não condiziam com o real, por conseqüência, contrário ao relatório então produzido. Ousei negar-me assinar a papelada e saí do local ouvindo a seguinte frase: “Reza a lenda que muitos estão amanhecendo na lagoa com a boca cheia de formigas de forma misteriosa”. Entendi o recado embora não temesse nem um pouco por mim, mas era responsável por meus filhos. Decidi então pedir exoneração, uma vez que já sabia muito para permanecer com segurança nesta linda e sossegada comunidade.
Citar este fato, meu amigo, significa trazer a luz, questões de ordem mais grave e urgente. É lindo e também segue as normas acadêmicas citar um milhão de pensadores que discutem os problemas mundiais. No entanto, crianças, adolescente, pescadores e trabalhadores de nossa comunidade talvez não sintam essa relação de pertença nas discussões trazidas aqui. Este espaço deveria convidar cidadãos de nossa comunidade para pensar o purolento câncer que provoca o descaso econômico, social e político local.
Diante destes fatores dificutores de um pensar Barra Velha como nosso pequeno paraíso, analisar o trânsito, os desmandos na pavimentação, a melhoria nos pontos turísticos, uma política comprometida e responsável, requer sim, uma re-educação que resgate relações de pertença ao lugar. Consciência de que, enquanto cada um pensa em tirar proveito para si de cada situação, principalmente em época de eleições, nada contribuirá para mudanças significativas.
Penso numa alfabetização ecológica que desperte desde os primeiros anos de vida uma relação de pertença ao lugar, família, comunidade que construa uma interdependência do meio sócio-cultural-ambiental. Uma educação diferenciada da que temos até agora que considera uma natureza humana diferenciada da natureza em si. Isso levou o humano a uma supremacia de poderio sobre todas as coisas, onde a vida natural acontece fora dele.
O humano é o pensante, o transformador/destruidor/construtor, no entanto, deveria ser o cuidador, preservador, protettor uma vez que reconheça sua interdependência disso tudo. Nós humanos, somos natureza frágil, diferente da natureza em si que segue sua espontaneidade natural onde tudo acontece independente de nossas intervenções. Somos totalmente dependentes dessa natureza sadia em seu curso. Uma geração que possa sentir fortemente esta interdependência e fragilidade diante do espaço natural que ocupa, poderá reinventar A POLÍTICA, num sentido de: A Arte de Bem governar o que existe de melhor e necessário para sobrevivência e transcendência dos cidadãos de Barra Velha e do mundo.
Os temas que brotam das tramas vivenciadas no contexto dessa comunidade são muitos e não podem ficar aprisionados nas masmorras da opressão e repressão. Somos todos chamados a um envolvimento solidário e cidadão nessa construção coletiva do bem-viver e pertencer ao espaço-lugar comum que é Barra Velha. Contribuições enviadas pela leitora e co-escritora Geozani de Fátima.

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