“Barra Velha, nosso pequeno Paraíso...'Muito poucos sabem pensar, mas todos querem ter opiniões. - Arthur Schopenhauer'”.
Geozani,
Você, a partir de Schopenhauer, toca em uma questão de fundo que é fundamental para os dias atuais. Principalmente se pensarmos em um processo de gestão local que pode fundamentar-se em lógicas ou formas de pensar que pouco contribuem para o desenvolvimento significativo do mesmo. Isso toca numa questão de fundo epistemológico, num ponto onde se entende que é fundamental aprender a pensar. Vivemos em um contexto democrático, logo, seria crucial pensarmos em uma democracia cognitiva em que, ao aprender a pensar - sentido de saber-pensar de forma cidadã, os sujeitos, em geral, poderiam inserir-se social e cognitivamente nas discussões, nos embates, nas trocas, nas proposições, enfim, na elaboração de ideias e propostas que desencadeassem formas cidadãs no trato com as questões públicas locais. A opinião é sempre carregada de senso comum e de generalidades. O pensar exige análise, compreensão, apreensão da realidade. O ato de pensar exige ainda, fundamentos que lhe dêem suporte, que lhe sirvam de referencial para tecer uma dada elaboração ou posicionamento. Não são poucos os que preferem as práticas ao invés das reflexões e análises. Pensar exige esforço e sistematização. No caso da gestão do lugar, poderia se pensar que, saber-pensar poderia se constituir como um dos elementos fundantes da lógica administrativa. Para toda ação, não uma reação, mas um pensar comprometido, responsável, prudente. A lógica cartesiana implantada em muitos sistemas é aquela da fazeção – “vamos fazer e fazer obras e mais obras”, sem pensar nas conseqüências, nos reflexos, na multiplicidade de reações que são desencadeadas a partir de cada ato, de cada ação desenvolvida. Como enfoca Morin (2005), numa democracia cognitiva, os cidadãos não estariam mais condenados à ignorância dos problemas vitais. É isso que falta em muitas instâncias. Um povo que concebe a cidade enquanto contexto educador – o bairro, as ruas, as vielas, os pontos turísticos, enfim, tudo que constitui a cidade e seu contexto torna-se ambiente educador, torna-se espaço de prática da democracia. Não é apenas problema do governo uma obra em determinada rua ou espaço público, é problema de todos porque diz respeito à vida de todos, por isso, precisa ser pensado junto, precisa ser pensado no coletivo. Nesse contexto, concordo com Morin (op.cit.), no sentido de que se precisa pensar numa ética da resistência à barbárie. Já chega de amadorismo, já chega de fazer de conta que se administra, já chega de balelas quando se trata da coisa pública, do espaço de vida de todos. A população, o povo em geral, quando educado para o saber-pensar, pode e deve agir no sentido de resistir eticamente a toda forma de esgarçamento da vida; a toda forma de corrupção e desvio de conduta. Para isso, é preciso que se caminhe na direção de uma sensibilização socioambiental enquanto ato inicial de um processo do saber-pensar para o pensar-bem a vida e seu meio. Barra Velha é, de fato, um paraíso, mas tem ficado a mercê de lógicas infratoras, contrárias a uma democracia cognitiva – parece que manter o povo na ignorância garante melhor o direito aos cargos e vagas no administrativo. O pensamento elaborado e que tem como base um conhecimento ou um dado saber sobre os fatos, fenômenos e acontecimentos ajuda de modo mais específico a enxergar as variáveis, a interpretar as causas, a dar direcionamentos. Aprender a aprender administrar faz bem e não gera ônus inapropriados. Finalizo com uma citação do Morin (2005, p. 170-171) que considero ímpar: “Essa reforma das mentes pode ser conduzida pela educação, mas infelizmente o nosso sistema educacional terá de ser previamente reformado, pois está baseado na separação: dos saberes, das disciplinas, das ciências; produz mentes incapazes de conectar os conhecimentos, de reconhecer os problemas globais e fundamentais e de apropriar-se dos desafios da complexidade”, Na seqüência, continua o autor citado: “A reforma do espírito é um componente absolutamente necessário para todas as outras reformas. Leva a um modo de pensamento que permite compreender os problemas planetários e tomar consciência das necessidades políticas, sociais e éticas; isso é ainda mais importante na medida em que o papel da consciência humana é agora primordial para a salvação do planeta”. Saber-pensar implica no desenvolvimento de uma outra ética e outra consciência de mundo e da vida.
Obrigado, minha amiga, por partilhar suas ideias e provocar as minhas.
Valdir

Valdir, diante da fragilidade e vulnerabilidade de nosso Planeta é, de fato, urgente uma outra ética - uma ética de responsabilidade de todos sujeitos-cidadãos nas relações entre si e com a natureza; pois, só dessa maneira teremos condições de possibilitar a vida, com qualidade, às gerações futuras. Valem as palavras de Hans Jonas (2006): “Aja de modo a que os efeitos da tua ação sejam compatíveis com a permanência de uma autêntica vida humana sobre a Terra” [...] “ Aja de modo a que os efeitos da tua ação não sejam destrutivos para a possibilidade futura de uma tal vida” [...]; “ Não ponha em perigo as condições necessárias para a conservação indefinida da humanidade sobre a Terra”; “[...] Inclua na tua escolha presente a futura integridade do homem como um dos objetos do teu querer.”
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